Primeiros Segundos #14 - Vitória | Iradex

Primeiros Segundos #14 - Vitória

O que vem depois do tombo? Essa é uma daquelas lições que a vida nos ensina da forma mais bruta.

Depois de uma pausa, algumas horas de silêncio e muitas outras ouvindo, chegou a hora de retomar a caminhada. E você, acompanhará meus passos?

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Texto, locução e edição por Mackenzie Melo. Participação especial: Mylla Fox, Concílio Silva e Gusta Mociaro.


Vitória (versão em texto)

Algumas coisas na vida só podem ser aprendidas quando as vivenciamos.

Muito se fala, e naturalmente que é verdade em inúmeros casos, que ao vermos alguém passando por uma situação e nos esforçarmos para nos colocar no lugar da pessoa que vive aquele acontecimento nós nos preparamos para o caso de algo parecido acontecer conosco. Entretanto, existem algumas situações em que isso não se aplica com muita precisão.

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Só que eu já estou me adiantando um pouco. Comecemos pelo começo.

Sejam todos muito bem-vindos de volta ao Primeiros Segundos, aquele espaço onde você pode ler o que eu escrevo e ouvir o que eu falo, sobre algo que ouço, leio ou vejo, desde que me toque, que me sensibilize, me torne inquieto.

Saiba que se estiver aqui pela primeira vez e se estiver lendo esse texto no site do Iradex, basta procurar, logo acima, o link para a versão em áudio. Caso esteja ouvindo, visite o site do Iradex para ler o texto e encontrar todos links para o que eu escrevo e estou falando por aqui. Além, é claro, de poder conhecer tudo o mais que o Iradex produz, seja em áudio, seja em texto, sempre com amor pelo que fazemos.

Sinto que, pelo menos para os que nos acompanham desde a temporada passada, vocês podem estar se perguntando: “será que ele vai continuar com aquela ladainha da temporada passada quando sempre falava sobre o primeiro texto que seria escrito, mas que nunca conseguia terminar de escrever?” Posso responder a essa pergunta. Não, eu não vou fazer isso nessa temporada. Creio que vocês já imaginam como funciona. “Ele vai ficar arrumando desculpas e nunca vai escrever aquele primeiro texto”. Pode ser que sim, mas também pode ser que não. Pode ser que escreva um dia, pode ser que já tenha escrito, pode ser que eu nunca escreva. O que é mais importante para mim, nessa temporada, entretanto, é que eu já superei essa derrota e não falarei mais dela. Pelo menos não mais antes de a temporada terminar. Contem com isso.

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Superação. Todos os atletas do mundo sabem muito bem o que é essa palavra. Bom, pelo menos aqueles que realmente desejam ser bons atletas.

Quem nunca tentou andar de bicicleta e acabou se estatelando no chão pelo menos uma vez? Lembro de um dia estar chegando junto de vários amigos que me esperavam na frente da casa de um deles e, olhando para todos, de repente, todos desaparecem, mas eu continuo ouvindo suas vozes. Não, não foi um sonho. É que a próxima coisa que me vem à mente é um cimentado na rua, um monte de risadas, um joelho ralado e um ego ferido.

Muitos anos depois, já com as minhas duas filhas, uma delas em idade de aprender a andar de bicicleta – a mesma sobre a qual falei aqui no episódio inicial da primeira temporada – estávamos conversando quando ela me pergunta se pode ir lá fora brincar com a bicicleta dela. Eu disse, claro que sim. Ela já tinha aprendido o básico do equilíbrio e já tinha tirado as rodinhas, mas ainda era inexperiente. Tinha, para minha surpresa, conseguido ir bem até aquele momento sem nenhuma grande queda ou machucado. Afinal de contas, estávamos sempre ao lado dela. Naquele momento, entretanto, ela queria ir brincar com os colegas e, naturalmente, não nos queria por perto. Olhei para ela e disse: “Vá sim, mas antes eu quero lhe falar uma coisa. Existem poucas certezas na vida. Uma delas é que, quem anda de bicicleta, cai. Você já deve saber disso porque já caiu algumas vezes. O que talvez não saiba ainda é que algumas dessas vezes a queda vai machucar. E tudo bem. Quando machuca, dói e a gente chora. Muitas vezes a gente chora muito. E tudo bem também. Então a gente aprende com a queda. Se levanta, pede ajuda, limpa o machucado. E depois, o que a gente faz? Isso mesmo. Sobe na bicicleta e vai andar nela de novo”.

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O Segredo para a Vitória (The Secret to Victory) é um podcast curto. Teve apenas uma temporada (lançada em 2017) de 6 episódios e nenhum episódio chega a 20 minutos. Se você está no trânsito, fazendo sua atividade física ou tem alguns minutinhos para ficar concentrado, esse se encaixa perfeitamente na sua rotina diária.

Comandado por Domonique Foxworth, que foi jogador da NFL, a maior liga de Futebol Americano dos Estados Unidos, O Segredo para a Vitória é um podcast esportivo, mas não daqueles que falam sobre as notícias da hora. Como o próprio nome sugere, vai contar histórias relacionadas a esportes. E que histórias!

Curtas, mas inspiradoras, Domonique nos apresenta a histórias cruciais da vida de desportistas que atingiram o topo de suas carreiras ou que buscam chegar lá e como eles superaram os momentos mais difíceis da jornada para conseguirem chegar onde chegaram e ser quem são.

Entendo que por ser um podcast em inglês, produzido nos EUA, é natural que os esportes em foco serão os que mais aparecem na mídia no país do Tio Sam. Mas não se preocupem demais com isso. Não é necessário conhecimento profundo dos esportes. Para quem já conhece um pouco de cada um deles a jornada de ouvi-los é ainda mais interessante, mas o foco é nas pessoas, nos jogadores, na derrota e na vitória. Não na vitória do time, necessariamente, mas nas vitórias pessoais de cada um deles, na história da superação.

Nos seis episódios conhecemos quatro jogadores de futebol americano, um de basquete, um de tênis e um de beisebol. Se você está contando, viu que são sete personagens. É que em um dos episódios nós nos deparamos com dois irmãos que, apesar de começos desastrosos em suas carreiras, chegaram a se tornar dois dos nomes mais conhecidos do futebol americano de todos os tempos, Peyton e Eli Manning.

Temos também a história de Serena Williams, mulher e negra, que, além de ter que lutar e vencer todos os preconceitos ligados à sua cor e seu gênero, luta para vencer a si mesmo numa batalha que a levou, até hoje, a ser a atleta que mais venceu títulos de tênis desde o início da Era Aberta do esporte em 1968. Em um determinado momento, já depois de ter sido campeã 22 vezes e ser a número 1 no ranking e estar em busca de seu vigésimo terceiro campeonato, ela perde para Karolina Pliskova, jogadora Tcheca que ninguém acreditava ser capaz de derrotá-la. Afinal de contas, nas palavras da própria Serena: “Perder é algo que supostamente não deve acontecer a alguém como eu. Diz-se que eu não posso perder. Nunca.” (“Losing is something that someone like me is allegedly not supposed, I’m not supposed to lose. Ever.”) A cobrança em cima dela é tão grande que ela complementa: “... todas as vezes que eu piso numa quadra e não ganho é uma história maior do que quando eu ganho.” (“... every time I step on the court if I don’t win it’s a bigger story than when I do win”) E, logo após, o apresentador termina dizendo “Quando Serena perde, a manchete é ‘Serena Perde’ em vez de ‘Fulana Vence’.” (“When Serena falls the headline is ‘Serena Loses’ rather than ‘Whoever Else Wins’.”) Ah, depois dessa derrota, em um outro torneio, ela chegou à final e conseguiu seu vigésimo terceiro título.

Além da história de Serena e dos irmãos Manning, ouvimos ainda sobre Matt Ryan (jogador de Futebol Americano) que perdeu o título junto com os Falcons, seu time, para o time dos Patriots depois de estar vencendo o jogo por 28 a 3 e ninguém achar que poderiam perder. Conhecemos Karl Anthony Towns, jogador de basquete universitário que em uma temporada quase perfeita (o time ganhou todos os primeiros 38 jogos e precisavam ganhar mais um para ir à final) perdem e não disputam o título. Somos apresentados a Kyle Schwarber, jogador do Chicago Cubs, time de beisebol cujo último título tinha acontecido em 1908 e que, no ano que parecia que o time poderia ganhar o título novamente ele se machuca no terceiro jogo e tem que sair do time pelo resto da temporada.

Finalmente, conhecemos J.J. Watt, um outro jogador de futebol americano, vindo de uma cidade pequena e não tão conhecida por seus atletas. Apesar de não ter sido escolhido por uma grande universidade para ser jogador e isso ser um enorme baque em suas pretensões, ele decide não desistir e seguir em busca do que deseja. “Eu aprendi que você não pode trapacear. Não dá pra escapar. Essa é a beleza do esporte. Essa é a beleza do sucesso, em geral. Não existe atalho. Você não vai, de repente, do nada, correr 40 jardas em 4.2 segundos e levantar 700 libras sem nunca ter entrado numa sala de academia. Quer dizer, se você puder, excelente, eu adoraria poder apertar sua mão porque eu adoraria ser como você. Só que você não vai aparecer um dia sem ter feito nenhum exercício entre o final da temporada e o começo da outra temporada e se tornar o melhor jogador. Então, você tem que trabalhar.” (“I learned that you can’t cheat it. There’s no way around it. That’s the beauty of Sport. That’s the beauty of success in general. There’s no shortcut. You’re not going to all of a sudden go out there and run a 4.2 40 and bench press 700 pounds if you never hit the weight room. I mean, if you can, awesome, I would like to shake your hand because I wish I was like that. But you’re not just all of a sudden show up one day if you didn’t work out the whole off season and go out and be the best player of the league. So, you have to put in the work.”) Ele finaliza dizendo: “Eu vou fazer tudo o que posso fazer hoje para ter certeza que estarei na melhor situação para amanhã.” (“I am just going to do whatever I can today to make sure I am in the best position for tomorrow.”)

Pode parecer piegas e de um certo modo até acaba sendo. Entretanto, em dias que tudo se transforma em motivo de discussão e polarização, brigas e ódios quase mortais, retornar a histórias que nos mostram que apesar de todas as dificuldades – e são muitas em nossas vidas – podemos dar sempre a volta por cima e vencermos, é indispensável. Creio que elas nos dão combustível para podermos continuar seguindo firmes e confiantes de que, apesar das quedas, podemos e devemos permanecer sempre na busca do melhor, para nós e para todos os nossos companheiros de jornada. Seja no esporte, seja na vida.

Como disse no início, não temos como saber exatamente o que é cair sem realmente cair. Entretanto, acredito do fundo de minha alma que, ao conhecermos histórias como as que o The Secret to Victory Podcast nos conta, podemos saber que caso caiamos temos exemplos de que isso já aconteceu com mais outras pessoas e que elas, com esforço, conseguiram superar as dificuldades – não sem chorar, muitas vezes – conseguiram falar com alguém a respeito, limpar as feridas e continuar a caminhada.

Bem como no caso da minha filha com a bicicleta que contei no começo. Depois do que falei com ela, ela saiu com a bicicleta e fui continuar a fazer o que precisava. Alguns minutos depois ela entrou chorando e veio até mim mostrando o joelho ralado, cheio de areia e com um pouco de sangue. Coloquei-a nos meus braços e fomos até o banheiro e lavamos a ferida. Então ela olhou pra mim e disse. Agora vou lá fora andar de bicicleta novamente. Quando ela entrou machucada chorando, eu também chorei. Quando ela saiu sorrindo, eu também sorri. Chorando.

P.s.: Muitos anos atrás, em uma estação de metrô, vi uma propaganda – que não lembro bem do que era, ou seja, não sei se foi muito efetiva como propaganda – mas lembro do impacto que ela me causou. Era uma pergunta. “Você aprende mais quando perde ou quando ganha?” Seria muito massa se você que lê ou escuta o Primeiros Segundos pudesse, além de espalhar esse podcast pelos ouvidos de seus amigos e comentar no site do Iradex o que está achando pudesse também dar sua resposta a essa pergunta. Ficaríamos honrados de receber sua visita.

P.s.2: se tudo der certo, e imagino que dará, essa segunda temporada do Primeiros Segundos acontecerá semelhantemente à primeira, ou seja, a cada quinze dias um novo episódio. Diferentemente do que aconteceu na primeira, entretanto, onde agradeci a todos os amigos e amigas que me ajudaram com suas vozes nos episódios apenas no final da temporada, dessa vez vou agradecer a cada um deles quando eles aparecerem por aqui. Eles mais do que merecem isso. Assim, no episódio de hoje contamos com Gustavo Mociaro como a voz de Domonique Foxworth, o apresentador do podcast, com Mylla Fox como Serena Williams e com Concílio Silva como J.J. Watt.

Muito obrigado a todos vocês por toparem estar comigo nesse primeiro Primeiros Segundos da segunda temporada.

Nos vemos em duas semanas.

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