Mixtape #14: Indie-Pop | Artistas Francesas | Iradex

Mixtape #14: Indie-Pop | Artistas Francesas

Nesses últimos dias estava a me perguntar quando iriam se apresentar novos artistas que me tirassem desse marasmo musical de indiferença. Isso, inclusive, explica certa ausência em escrever alguma review por aqui. Foi aí que escutei Ben Mazúe (que será referido com co-work com Pomme) e, consequentemente, encontrei Jain e Angèle, o que foi uma surpresa ainda maior. Continuei pesquisando naquela espiral de uma nova paixão musical – não que sejam novos estilos, mas a forma como foram criados e executados são, até porquê temos gêneros musicais que existem há anos com a mesma nomenclatura, incomparáveis ao longo dos anos, digamos que essa é uma nova tendência dessas artistas que possuem como primeiro idioma (e em sua maioria, uma quantidade majoritária ou total) de suas composições em francês.

O Indie-pop francês e o canadense-francês sempre seguiram uma disposição evolutiva parecida, como se interligados – apesar de não estarem no mesmo local de criação, com uma pegada de dream pop, porém com uma leveza de Chanson que é captada nas essências musicais dos pops franceses.

ANGÈLE

French Pop, Dance pop, Nouvelle Chanson Française, Female Vocalist, Sarcastic.

Angèle que tinha aproximadamente 23 anos quando lançou o álbum, criou algo que é totalmente ¨relatable¨ para toda uma geração – a geração a qual ela representa, pessoas com uma gama incrível de criatividade e sentimentos que são explorados ou mal explorados e necessidade de ter um escape, ela consegue colocar em suas letras muito que representa essa psiquê de uma geração que por muitas vezes por necessidades criadas na insegurança, são vistas como seres egoístas de uma superficialidade individual – pela busca de experiências eterna, a hipocrisia, a falta de uma imagem mais assertiva – essa geração de transição, ela se refere àlguns desses questionamentos de uma forma tanto acolhedora quanto sarcástica.

Primeiro álbum da artista, Brol, é um álbum completo, não que eu tenha amado toda track que está inserida, nele, porém devo admitir que é um trabalho magnífico, tanto seu talento como musicista, qualidade de produção, noção de tempo e ritmo, quanto o mais importante que é o conteúdo de suas músicas, por exemplo Balance Ton Quoi, é uma track perfeita, a criticidade rítmica, a leveza com que a música começa e é apresentada, a batida inserida no momento correto que se esperava um bridge, porém já é o refrão, que traz consigo – na construção da letra – a questão central que é a inserção da mulher na sociedade machista e como a mesma é vista e suas consequências de limitações impostas, porém que não devem e nem vão permanecer dessa forma, conquanto que haja uma maneira, não de resistências, mas de ação por parte das mulheres (ou do feminino no geral), o mais incrível, é a capacidade da letra e da composição de sua harmonia conseguirem se encaixar perfeitamente em cada frase e palavra, a artista conseguiu compor algo que de fato deve ter vindo de sua alma para ser tão sincronizado. A faixa mais escutada no Spotify é Tout Oublier, novamente ela traz uma música que tem um ritmo crescente num espaço de tempo em oitavas, não necessariamente aumentando o número de notas em cada instante, porém inserindo novos elementos a orquestração do todo que compõe a track, e em momentos exatos a retirada dos mesmos estímulos, não que não seja uma música chiclete, pois é, mas é uma música chiclete com o seu grande valor. Por último falarei de Ta reine – quando comentei sobre a hipocrisia da geração a qual ela está se referindo, Ta reine trata de um relacionamento homossexual que nunca pode acontecer, não por falta de amor, porém pela hostilidade e preconceito que ainda existe na sociedade – por muitas vezes escondido, até mesmo de quem o possuí, só que refletido por todo o redor, essa música configura exatamente a falta de coerência entre o discurso social da geração e as verdadeiras experiências que não são tão convergentes com os ideais pregados, só que de uma forma que ainda reluz uma certa esperança no assunto – como uma esperança de progresso social em algum momento imediato ou nas imediações.

JAIN

Pop, French Pop, Indie Pop, Female Vocalist

Uma das liners do Lollapalooza – sendo o maior catalisador da minha escolha de ir para o evento esse ano, diferente da primeira artista citada nessa edição, Jain, é bem mais leve em suas letras e no conteúdo ao qual se refere – (não em todas as tracks).
O diferencial crucial dessa artista que a faz ser uma estrela em ascensão quanto a música pop francesa, é a união de variados elementos culturais nas produções das tracks, tanto em batidas africanas, quanto em técnicas vocais empregadas. É uma artista multicultural – que eu particularmente não encontrava desde Lhasa De Sela – Jeanne Galice (aka Jain) que tem apenas 28 anos, tem suas ascendência de raízes africanas o que já traz uma bagagem musical diversificada por si só, Makeba uma track do álbum Zanaka que foi lançado em 2005 é um tributo para o ¨funky¨ da africa do sul, e é uma música perfeita em diferentes dimensões, tanto o uso de técnicas vocais de estilo africano, quanto os instrumentos musicais que envolvem, porém há uma questão – ela consegue adicionar o pop mundial na track não só pelo uso da língua inglesa para tal, mas pela melodia da música. – Posso ter comentado que suas músicas eram mais leves, contudo essa – tem uma particularidade política, além de ter sido lançada (porém a produção da mesma foi feita anos antes) pós atentados terroristas, traz consigo uma mensagem de mente aberta e amor no coração de todos como um som uníssimo de unidade.

De forma mais leve, foi lançada ¨Alright¨ - novamente falando de amor, porém um amor mais romântico – agora, temos nesta track ainda uma marca importantíssima da artista que é a multidiversidade de batidas, porém mais sintéticas, e um vocal leve, como se não houvesse esforço algum de manter qualquer nota, elas fluem perfeitamente em cada momento, apesar de ser uma música com bastante elementos diferentes, muita informação para mim, pessoalmente, ainda assim é uma música muito boa e de produção perfeita. Com cada minuciosidade de sua melodia perfeitamente casada nos segundos harmônicos. É uma música que cabe muito bem em uma festa, e que tem uma mensagem bem ¨up beat¨ para o ouvinte, aquele ¨anthem¨ de reconstrução pós algum momento difícil que se supera, contanto que tenha amor.

A última track a qual vou me referir da artista é ¨Come¨ que apesar de ser uma música de aspectos acústicos, tem um ritmo animado que confunde na sua categorização, que é o que essa artista faz de melhor, misturar tudo que se refere a métrica e ritmo e transformar em algo inesperado e que funciona. Concluindo, cada música dessa artista é uma imersão por si só, pois cada uma é um universo de conteúdo e sensações, é um transporte para algo além daquilo que é imposto normalmente para a criação musical.

POMME

Folk, Chanson, French, French Pop, Alternative Pop, Female Vocalist

De acordo com os críticos franceses, essa artista é um vislumbre do novo estilo de canção francesa – isto em 2017, o seu estilo é um folk melódico e melancólico, não posso fugir muito dessa categorização, são músicas bonitas, leves, que nos transportam de uma forma leve, porém não tão entusiastas, com um quê de sofrimento inerente a certas experiências que a artista viveu e que a maioria de nós podemos nos identificar. Sua maior inspiração para músicas é o amor, simples e complicado assim, são as coisas que fazem o espírito dominar, as tracks feita pela artista são de uma magnitude empírica, com letras poéticas e como várias poesias que fazem nosso coração sentir algo mais profundo, possuem inúmeras metáforas, algo bem mais tradicional do pop francês – encontramos esse tipo de letras menos assertivas em vários e grandes artistas franceses, uma forma mais sútil e elaborada de expressar os sentimentos. Quanto suas harmonias são enevoadas com suspense e uma transição lenta, porém com uma continuidade pacífica nas transições o que faz com que não constituíam nos espaços musicais entre as notas a evocação sentimentos enérgicos e sim o total contrário.

Playlist


Hanna Pinheiro, DJ desde 2010 das grandes festas de rock de Fortaleza, destaque das noites da cidade com várias referências nos sons nacionais e também uma pesquisadora de musicas novas. Já foi DJ residente do Orbita Bar e DJ da Festa Fliperama. Atualmente tem residência no Berlinda Club.