A Guerra: A Ascensão do PCC e o Mundo do Crime | Resenha | Iradex

A Guerra: A Ascensão do PCC e o Mundo do Crime | Resenha

O estado do Ceará está sofrendo ataques criminosos desde o começo do ano. As lideranças de facções comandam, de dentro dos presídios, atentados incendiários contra bens públicos e privados.

Alterando a rotina das cidades e transportes públicos, espalhando o medo na população e desafiando o governo estadual após medidas que tornam mais rigorosa a fiscalização no sistema penitenciário.

O clima tenso pode ser sentido ao rodar pela noite alencarina e se deparar com viaturas policiais guardando viadutos. Na periferia da capital, os ataques são diários e os relatos pertubadores.

Uma guerra entre facções que não se limita as restrições impostas a população carcerária, também acontece em outros estados de Norte a Sul. Eclodindo num ponto estratégico disputado pelo narcotráfico para entrada e saída de drogas da Europa e America. Um novo cangaço internacional.

O Ceará pulou de 77 filiados em 2012 para 2,5 mil e se tornou o terceiro estado em número de membros do PCC no país, atrás apenas de São Paulo, com cerca de 11 mil, e pouco abaixo do Paraná. Ao lado dos novos membros nos presídios, chegavam as regras que vinham sendo forjadas fazia anos na realidade criminal paulista.

Um reflexo da expansão do Primeiro Comando da Capital (PCC) depois da facção paulista forjar alianças ou confrontar grupos locais nas fronteiras sul-americanas, nas periferias e nos presídios.

O crime fortalece o crime é o seu lema e A Guerra: A Ascensão do PCC e o Mundo do Crime no Brasil, publicado pela Todavia Livros, reporta detalhadamente essa trajetória e fisionomia criminosa.

A GUERRA: A ASCENSÃO DO PCC E O MUNDO DO CRIME NO BRASIL | TODAVIA LIVROS

As execuções, numa reserva indígena em Aquiraz, de Gegê do Mangue e Paca, chefes do PCC que se "escondiam" numa vida de voos privados e condomínio de luxo no Ceará, expõem a relevância do estado e a quantidade de dinheiro lavada pelo crime organizado. Ao mesmo tempo que a ordem de eliminar membros, atribuída ao líder Marcola, revelam o modus operandi e os conflitos internos pelo poder.

Esse e outros casos de maiores repercussões são investigados com alguns depoimentos e fatos inéditos, como detalhes do cinematográfico assassinato de Jorge Rafaat em Pedro Juan Caballero e Ponta Porã (MS), no chamado "Projeto Paraguai" de dominação da distribuição de drogas pelo PCC na fronteira.

O livro se torna ainda mais interessante quando aborda a comunicação entre as lideranças nos presídios federais de segurança máxima com as "sintonias" dos presídios estaduais e frentes na rua. Organização que utiliza os "salves", mensagens via WhatsApp, para movimentar ações criminosas de dentro para fora. Chegando num grau de "sofisticação" onde execuções são decididas por um júri via teleconferência.

Monumento do Duque de Caxias pichado com a sigla PCC | Rubens Cavallari/Folhapress

Monumento do Duque de Caxias pichado com a sigla PCC | Rubens Cavallari/Folhapress

O rompimento com a facção carioca Comando Vermelho rende momentos sanguinários como a chacina medieval de 2016 na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo, em Roraima. A maior sequência de assassinatos em massa da história do sistema carcerário, do Brasil e do mundo, ficou marcada pelo compartilhamento de imagens e vídeos da barbárie pelos pressos ao redor do país. Estabelecendo um padrão para demonstração de poder perante os rivais de outras facções que vigora atualmente.

Porém quando são contados os casos onde o crime resvala inevitavelmente na sociedade civil inocente que o estômago embrulha, gerando sentimento de impotência ao se deparar com a falência da nossa segurança pública, que não encontra soluções perdendo vozes importantes como Marielle Franco.

Se o crime fortalece o crime e estamos em guerra, conhecer da onde vem o tiro é necessário.

A expansão do PCC e a transformação do mercado de drogas foram efeitos colaterais de uma abordagem equivocada na área da Justiça e Segurança Pública. A guerra que, supunham as autoridades, ajudaria a controlar o crime promoveu a criação e a organização das facções criminosas, que assumiram papel de inimigos e partiram para a ofensiva, cada vez mais endinheiradas e dispostas ao embate.


A Guerra: A Ascensão do PCC e o Mundo do Crime no Brasil

De Bruno Paes Manso e Camila Nunes Dias; Todavia Livros; Não Ficção; 344 páginas; 2018.

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