Transformers é, ao mesmo tempo, uma das franquias de cinema mais famosas e infames da última década. Desde que Michael Bay deu uma vida nova no cinema à série de brinquedos, uma avalanche incontrolável de filmes, desenhos animados e (mais) brinquedos surgiu, elevando a carreira do diretor ao mesmo tempo em que o mesmo virava chacota pelos clichês e confusão dos seus filmes.
Bumblebee é o sexto filme da franquia, e está bem ciente de todos os elementos em comum que os filmes anteriores tem, como as explosões excessivas, lutas complicadas de acompanhar, personagens rasos e caricatos demais, entre tantos outros. O primeiro Transformers dirigido por outra pessoa fora Michael Bay (Travis Knight, dirigindo seu primeiro filme em live action, depois de sua estreia em Kubo e as Cordas Mágicas), o filme deixa a impressão de que houve um esforço consciente de eliminar ou disfarçar grande parte desses ingredientes, substituindo-os onde possível por equivalentes com um funcionamento melhor. As muitas batalhas grandiosas de antes foram substituídas por poucas lutas com menos grandiosidade, mas que deixam o espectador temendo pelos personagens envolvidos.
Outro fator que separa Bumblebee dos outros filmes da série é o fato de ele se passar 20 anos antes do primeiro Transformers, fazendo com que mesmo quem não tenha acompanhado os outros filmes não se perca na quantidade de robôs e humanos em tela, que só crescia nas outras sequências, além de ser uma boa introdução pros personagens, o que faz o filme parecer realmente com o começo de uma história. Quem já assistiu os outros filmes vai encontrar referências a eles, como o Setor 7, além de testemunhar acontecimentos que fazem sentido com o que se vê depois, como o que acontece com a voz de Bumblebee.
Apesar disso, uma coisa que pode incomodar quem já assistiu pelo menos o primeiro Transformers é a falta de menção ao líder Decepticon Megatron, que, pelo que descobrimos no primeiro filme, já está no Setor 7 desde os anos 30, o que faz parecer que os produtores quiseram ao mesmo tempo levar em conta certos elementos e ignorar outros, como se estivessem fazendo um "retcon" dos outros filmes (resetando certas partes da história, como se elas sempre tivessem sido daquela maneira).
Na parte humana, temos Hailee Steinfeld interpretando Charlie, uma menina rebelde que só quer um carro de aniversário, o que a faz conhecer Bumblebee, fugitivo, recém chegado de outro planeta. Sua personagem lembra um pouco uma mistura dos personagens de Shia LeBeouf e Megan Fox nos filmes anteriores, porém melhor atuada. A relação deles depois que passam a se conhecer lembra muito o clássico E.T. - O Extra-Terrestre (o que faz com que as ocasionais cenas de Decepticons assassinando humanos a sangue frio pareçam deslocadas, como se fossem um resquício dos outros filmes). Além de Charlie, temos a sua família, com uma dinâmica que lembra muito a da família Witwicky do primeiro filme, apesar de menos divertidas em suas interações com a protagonista.
Também há, como sempre, os personagens do núcleo militar, liderados pelo Agente Jack Burns, interpretado por John Cena, sempre com seu jeito sério e ao mesmo tempo caricato, com sua raiva contra os robôs alienígenas. No núcleo robótico, os vilões Decepticons não são muito interessantes, parecendo sempre com vilões de desenho animado. Apesar disso, acho uma boa escolha que apenas dois deles apareçam na história principal no planeta Terra.
Bumblebee acaba sendo um refresco para quem gosta de ver robôs grandões brigando mas não gosta de como os filmes anteriores eram feitos, além de ser um filme família divertido, entre os mais legais atualmente em cartaz. Tem um ritmo que não é cansativo também. Em resumo, é um filme meio inofensivo, ideal pra quem quer só um entretenimento de leve.