Primeiros Segundos #12 - Primeiras Impressões | Iradex

Primeiros Segundos #12 - Primeiras Impressões

Como gostaríamos que situações de doença e grandes dificuldades nunca nos atingissem. Só que não é assim.

Os medos, as incertezas, as dúvidas e os resultados mudam por completo, às vezes em direções totalmente inesperadas, a vida e o dia-a-dia de cada um de nós e daqueles que nos cercam.

Histórias reais, de pessoas reais, iguais a nós, nos mostram que as pessoas que ficam doentes são como nós. Elas sofrem, choram, riem, ficam alegres e lutam para vencer seus medos, inseguranças, dúvidas.

E é disso que o podcast Only Human trata. Afinal, somos apenas humanos.

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Texto, locução e edição por Mackenzie Melo. Edição complementar por Roberto Rudiney. Participação especial: Ana Patrícia Furtunato e Evelïssa Melo.


Primeiras Impressões (versão em texto)

(06 Ago 18)

Eu estava procurando informações sobre um podcast que ouvia, mas que “abandonei” um tempo atrás. Só como informação extra, não, não estava procurando nada sobre o podcast que seria o primeiro dessa série. Era sobre outro. Aquele primeiro episódio, quem sabe, uma hora dê as caras por aqui...

(30 Set 18 / 01 Out 18)

Depois de escrever o texto que vocês irão ler logo após essa introdução, mas claro que antes de publicá-lo, eu o revisei inúmeras vezes. (Com exceção do primeiro parágrafo que você acabou de ler, que faz parte do texto original)

Muito tempo atrás eu li algo que me marcou profundamente e que me “persegue” até hoje. Um autor que ficou perdido em algum lugar obscuro de minha memória certa vez falou que depois de escrever algo – nesse caso ele estava falando especificamente sobre livros – ele tinha que guardar em uma gaveta antes de mostrar para alguém. Lembro que ele falou algo sobre deixar o texto guardado por uns 3 meses antes de poder pensar em passar para o editor. Esse tempo era para ele poder “esquecer” o que tinha escrito.

Então, passado esse período, ele retirava o texto da gaveta e relia tudo. Aí então ele podia, como se estivesse lendo pela primeira vez, olhar para o escrito com “olhos novos”. Nesse momento ele percebia o quanto as ideias dele poderiam ser melhoradas, muitos erros se tornavam gritantes – tanto de gramática, grafia e até mesmo de continuidade. Isso permitia que ele conseguisse melhorar muito o trabalho antes de enviar para a editora e, naturalmente, publicação.

Por outro lado, algo que também nunca me deixou em paz foi ter ouvido Roberto Carlos – isso mesmo, o Rei – falar algo que me marcou do mesmo modo.

Certa vez, falando sobre um novo álbum que tinha acabado de lançar, foi perguntado a ele quanto tempo tinha demorado para ser finalizado. Ele então falou, em termos gerais, que alguém tem que determinar um prazo para ele poder finalizar o trabalho. Disse que muitas vezes, em quase todos os álbuns, com toda a gravação já feita e tudo pronto para impressão, ele ainda queria fazer modificações pois achava que podia ficar melhor. Ainda bem que tinha prazo, dizia ele, pois sem esses prazos, acho que eu nunca tinha terminado nenhum disco.

Esse episódio do Primeiros Segundos tem algo das duas coisas acima. Releitura depois de um tempo guardado e está na hora de publicar, então tem que terminar.
Terminei de escrever o texto em 06 de Agosto e, como já tinha vários outros prontos e gravados, deixei esse engavetado. Não de propósito, mas aconteceu mesmo assim. Alguns dias atrás, quando o pessoal do Iradex falou que o último episódio pronto do Primeiros Segundos já tinha ido para o ar, me preocupei, pois percebi que ainda tinha que revisar e gravar esse. Isso foi bom, por um lado, porque quando reli, notei que se tivesse gravado assim que terminei de escrever, ele teria ficado ainda pior do que está hoje.

Essa é parte da história. Ainda tem outros detalhes mais que importantes sobre o que eu encontrei no texto original, mas conto daqui a pouco, depois de vocês lerem o que escrevi originalmente (claro que já revisado).

(06 Ago 18)

Eu estava procurando informações sobre um podcast que ouvia, mas que “abandonei” um tempo atrás. Só como informação extra, não, não estava procurando nada sobre o podcast que seria o primeiro dessa série. Era sobre outro. Aquele primeiro episódio, quem sabe, uma hora dê as caras por aqui...

Bom... Voltando. Estava procurando sobre esse podcast que ouvi há algum tempo e acabei descobrindo que ele tinha acabado, ou entrado em hiato, infelizmente. Nessa busca, entretanto, me deparei com um outro que ainda não tinha ouvido falar. O programa lida com saúde e não seria algo que, normalmente, eu me inclinaria a ouvir e adicionar à lista “giganorme” de podcasts que eu quero ouvir. Só que eu gostei do nome e decidi dar uma chance. Chama-se Only Human. Já já falo mais sobre esse nome.

Agora cá estou eu ouvindo e escrevendo sobre ele.

Comecei ouvindo o trailer do podcast no meu trabalho. Fui capturado. Então já pulei para o primeiro episódio.

Quer dizer, antes de pular para ele, lembrei de uma de minhas irmãs e de uma amiga dela. É que elas, como a apresentadora do podcast que tinha acabado de descobrir, também tiveram seus problemas de saúde. Quem nunca teve? O problema delas, entretanto, é um pouco mais sério que a maioria de nós já enfrentou. Ambas tiveram câncer, não do mesmo tipo, mas câncer mesmo assim. Ana Patrícia Furtunato, (é assim mesmo, Furtunato com U), a amiga de minha irmã, criou um canal no Youtube para falar sobre como viveu, vive e luta com o que o câncer trouxe para a vida dela. O primeiro vídeo do canal se chama Eita! É Câncer. Dá uma conferida. É curtinho e dá o que pensar sobre a vida.

Voltando ao Only Human. O que me chamou atenção nele? (além do nome, é claro) É um podcast sobre saúde, o que, como já falei acima, não tem alta prioridade em minha lista de coisas a ouvir. Só que a apresentadora desse teve câncer de mama e o primeiro episódio serve para ela contar parte da sua própria história. Em um trechinho que ela relata de sua história, algo acontecido um ano e seis meses antes do momento em que o episódio foi lançado, ela coloca seu filho de 5 anos para responder algumas perguntinhas.

- O que vamos fazer?
- Cortar o cabelo dela.
- O cabelo de quem?
- De mamãe!

Mary Harris, a apresentadora, já começou a perder cabelo devido à quimioterapia que já está começando a fazer efeito. Inclusive os efeitos colaterais.

O primeiro episódio do podcast já seria interessante só por isso. Mas tem mais.

Ela está grávida de seu segundo bebê.

Este é começo de Only Human.

Mas voltemos um pouco. Um outro motivo de ter decidido dar uma chance ao podcast foi o nome. O que há em nomes de coisas, capas de livros, acordes iniciais de uma música, enfim, em primeiras impressões que nos capturam?

“Apenas Humano” é uma expressão que quer dizer tanta coisa ao mesmo tempo que não parece caber em si mesma. Somos humanos e isso é um fato, mas quando nos afirmamos como apenas humanos, muitas vezes estamos nos colocando para baixo. Apesar disso, sabemos também que todos nós passamos por dificuldades e que, quando vemos outras pessoas passando por elas, e vencendo, percebemos que se elas venceram, nós também podemos vencer. Afinal de contas, se sou apenas humano, a outra pessoa cujo problema acabei de conhecer, também é apenas humana.

Sejamos humanos, apenas humanos ou apenas humanos, torço para que queiramos, hoje e sempre, ser um humano melhor que fomos ontem e, amanhã, melhor que hoje.

Only Human é um podcast sobre saúde com o qual todos podem se identificar. Essa é uma das frases chaves do programa, mas é mais que isso. O restante do subtítulo tem um jogo de palavras. Every body has a story, ou seja, todos têm uma história. Mas isso seria assim se everybody estivesse escrito junto. Só que como está escrito separado, o sentido é diferente, apesar de ser parecido. Todo corpo tem uma história. O meu, o seu, o de todo mundo. É mais ou menos isso que o subtítulo quer dizer.

E é disso que o Podcast trata. Histórias reais, de pessoas reais, iguais a nós. Os medos, as incertezas, as dúvidas e os resultados que mudam por completo, às vezes em direções totalmente inesperadas, a vida e o dia-a-dia de cada um de nós e daqueles que nos cercam.

Em episódios curtos, a maioria é menor que 30 minutos, Mary Harris e sua equipe conversa com pessoas que têm ou tiveram algum problema de saúde e como essa dificuldade afetou – ou ainda afeta – a vida delas.

O segundo episódio, por exemplo, tem um papo incrível com Jamie Lowe, uma mulher que sofre com transtorno bipolar e que tomava um remédio com lítio – que deve ser tomado apenas com receita médica – enquanto ainda estava no colegial. Em um determinado momento ela achou que não precisava mais e decidiu parar de tomar. Não sem antes falar com o seu médico para fazer isso. O médico concordou e partir daí a vida dela começou a mudar para pior relativamente rápido. Sua mente começou a degringolar. Depois de contar coisas que ela fez enquanto parou de tomar o remédio, ela volta a tomar o remédio e se recupera totalmente. Quer dizer, o transtorno bipolar passa, mas a droga que ela usa para que isso seja possível torna outras partes do corpo dela doentes. E agora? Mente doente ou corpo doente? O que escolheríamos?

Naturalmente que não precisamos definir ou decidir o que faríamos caso algo assim acontecesse conosco já que isso nunca vai nos atingir. Como gostaríamos que isso fosse verdade, ou seja, que situações de doença e grandes dificuldades nunca nos atingissem. Só que não é assim. Não somos super-humanos. Daí ser tão legal acompanhar as histórias de Only Human. Nele nós vemos que as pessoas que ficam doentes são como nós, apenas humanos. Elas sofrem, choram, riem, ficam alegres e lutam para vencer seus medos, inseguranças, dúvidas.

No terceiro episódio vemos ainda mais disso. Nele nós encontramos depoimentos de pessoas que ligaram para o podcast e falaram sobre o que escondem de seus médicos, de seus parentes... Vemos também médicos contarem como é estar do outro lado. Não, não em termos de morrer, mas do lado de serem pacientes e terem que enfrentar o que nós – os não médicos – enfrentamos quando vamos ser consultados. Nesse episódio ouvimos algumas histórias cabeludas, mas necessárias...

Sei que cada um de nós – seja direta ou indiretamente – tem uma história médica com mazelas e alegrias, derrotas e vitórias. Uma das coisas que esse podcast me fez notar é que por sermos apenas humanos, precisamos aprender a compartilhar nossas histórias, mesmo as mais difíceis, pois isso nos ajuda a aliviar um pouco as aflições ao nos fazer perceber que não estamos sozinhos em nossas dificuldades.

Alguém falou que “um santo é um pecador que jamais desistiu de se esforçar pra ser melhor”. Ouvindo sobre como outros iguais a nós enfrentaram e enfrentam seus problemas de saúde, percebi que talvez a nossa maior dificuldade seja perceber que o problema maior não é estarmos doentes, mas sermos doentes. Desse modo, invariavelmente, se nos esforçarmos continuamente não apenas para estarmos saudáveis, mas sim para sermos saudáveis, independentemente de estarmos doentes ou não, não será a doença que nos definirá.

Sejamos Humanos. Cada vez mais Humanos.

(30 Set 18 / 01 Out 18)

Antes de terminar o episódio, como falei anteriormente, preciso terminar a história que comecei a contar lá no comecinho.

Depois que revisei o texto e acreditei que estava bom, achei que ainda faltava alguma coisa, mas tinha ficado satisfeito e não iria mais mexer, mesmo com algo me incomodando. Então, decidi seguir meu instinto e enviei para uma pessoa ler e me falar algo sobre ele. O feedback dela foi essencial para que eu pudesse concluir a revisão final do texto, ou seja, escrever essa parte que estou adicionando agora.

A pessoa para quem enviei o texto foi minha irmã caçula, que eu citei acima. Algo me dizia que eu precisava pedir a permissão dela para falar sobre a dificuldade que ela passou. Mesmo sem citar o seu nome, eu devia isso a ela. Nem que fosse para ela dizer que estava tudo bem e que tinha gostado. Era isso que eu esperava, pois não precisaria mudar nada. Você já percebeu que não foi isso que aconteceu.

Enviei o texto e ela me respondeu. Abaixo está a transcrição de algumas partes do que ela me falou.

Ah, para você poder criar uma relação mais próxima com ela, de quem eu sou irmão, ela se chama Evelïssa (o i tem trema, mesmo). Ela escreveu:

Senti falta de algo, mas talvez seja somente expectativa. Ou outra vibe mesmo.
Não li/vi/ouvi o Only Human e minha base para esses assuntos é muito mais experiencial, e das conversas com Ana Patrícia... que vão para este mesmo lado, mas com outros "textos
Que não impede de gerar as segundas impressões.

Eu então falei:

Não sabe definir esse algo? Eu também sinto que ainda falta algo. Escrevi tem uns dois meses e ontem reli para alterar o necessário e gravar. Mudei algumas pequenas coisas, mas também senti falta de algo.

Ela escreveu:

Mackenzie
Normalmente conversamos muita besteira porque o bom humor é uma forte vertente do grupo
Mas quando saímos, partimos para um papo sério
Depois de contarmos os detalhes técnicos dos processos
Entramos para o papo existencial
Tanto eu quanto ela, sentimos a mesma coisa
O quanto nos desgastamos emocionalmente com coisa que não vale a pena
E o quanto deixamos as coisas importantes para depois
Quando cai a realidade do "tô viva, mas podia ter morrido e posso morrer", a pessoa para pra pensar o quanto faz escolhas erradas
Ela falou uma coisa bem legal. ela disse:

(a parte em negrito abaixo é onde ela está falando de Ana Patrícia Furtunato, citada anteriormente)

Vocês sabem como eu sou (estourada, estressada, desbocada)
Depois que eu soube do carcinoma, as coisas começaram a se re-significar rapidamente
Todo mundo que eu esculhambava eu pensava: vou dizer nada. vou nem me desgastar com isso

E passou a ver e viver a vida de forma muito leve
A vida é um sopro
E podemos desencarnar a qualquer tempo e por qualquer motivo
Mas uma doença chama a pessoa aos próprios pensamentos
É um EPA
Cheio de exclamações
Ano passado eu não comemorei meu aniversário. Achei que era uma bobagem, estava sentindo muita falta de Mainha e parti pro "ah, tem que comemorar todos os dias, não só no aniversário"
A intenção era essa, mas na verdade não era o que estava acontecendo. Eu não tive vontade mesmo de comemorar
Quando a notícia do câncer chegou, mesmo eu nunca tendo achado que fosse dar em nada, e já tendo Ana Patrícia como exemplo, eu pensei o quanto eu fui egoísta com a vida.
Que eu poderia até nem chegar no meu próximo aniversário e não ter comemorado porque eu sou lesada
E as coisas ganham outro valor
As pessoas ganham outro valor
As situações ganham outro valor
Os momentos ganham outro valor
Tudo isso, sem terem feito nenhum esforço.
Porque, na verdade, a vida ganha outro valor.
Então falar sobre doença é falar sobre ser humano... mas para mim a palavra mais forte, ou DE ORDEM, é re-significar. Valorizar a vida.
E no final da conversa a gente olha com cara de idiota e fala: o fogo é ter que acontecer um negócio desses pra gente parar e recalcular a rota.
****
Well... nada que precise mudar no seu texto. De verdade. Apenas uma outra visão do mesmo "ser cada vez mais humanos"
Bom. Só uma reflexão.
E não dá pra resignificar o tempo todo. Somos humanos. Mas que dá um chacoalho toda hora, ah, dá!

Eu disse a ela algumas coisas, mas só no sentido de perguntar se poderia usar algo do que ela me falou para alterar o texto. Eu não tinha mais nada a acrescentar. Ela me falou que sim, que eu poderia usar o que ela escreveu. Eu agradeci assim:

Obrigado, Vel. Perspectiva é fundamental em nossas vidas.

Pois é. Ainda bem que eu pedi a ela para ler e aprovar. Essa revisão fez algo pelo texto, e por mim, que eu não poderia ter feito sozinho.

A primeira impressão que eu tive é que o Only Human tinha mudado algumas coisas em mim. Verdade.

Entretanto, em nome da transparência, preciso afirmar uma outra verdade.

Essa segunda impressão que ela me proporcionou foi ainda mais forte.

Chorei enquanto lia a resposta dela e me emociono quando leio novamente.

Sou Humano.

(06 Ago 18)

P.s.: a doença contra a qual eu mais luto é a falta de vontade de escrever aquele primeiro texto que prometi. Segundo algumas pessoas, essa falta de vontade constante de fazer algo pode ser indício de depressão. Entretanto, creio que esse diagnóstico não se encaixa com a doença. Parece mais preguiça mesmo... Espero que essa doença tenha cura e apareça logo, pois não sei até quando o Iradex vai aguentar minha constante promessa não cumprida.

(30 Set 18 / 01 Out 18)

P.s.2: o primeiro PS ficou pois não queria removê-lo, já que é verdade. Esse, o segundo, é para afirmar que, mesmo com o tom do primeiro sendo de brincadeira, queria deixar claro – em especial para mim mesmo – que com essa nova perspectiva, jamais poderia chamar essa falta de vontade de doença, pois, na realidade, fica difícil comparar falta de vontade – apenas por capricho – com o fato de alguém ter lutado contra um câncer.

Complementando

Quero agradecer imensamente à contribuição de Evelïssa (Vel) e Aninha. Sem elas, esse episódio não teria sido possível. Haveria um episódio com certeza, mas não teria sido nem um décimo do que se tornou. Pelo menos para mim. Obrigado de coração!

Links

Only Human - https://www.wnycstudios.org/shows/onlyhuman
Canal de @AninhaFurtunato - https://www.youtube.com/user/anapfurtunato/videos
Facebook de Aninha Furtunato - https://www.facebook.com/aninhafurtunato


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