Primeiros Segundos #9 - Socorro | Iradex

Primeiros Segundos #9 - Socorro

Minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá. Seno A Coseno B, Seno B Coseno A.

Se você tem mais de 25 anos, é muito provável que saiba que as cores do arco-íris são VLAVAAV e, nas aulas de física, aprendeu as maravilhosas fórmulas Vem Lamber Ferida, Sorvete e Sorvetão.

Músicas, rimas e brincadeiras são ótimas formas de memorizar conteúdos complexos. Ouvir o Primeiros Segundos também. Vem.

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Texto, locução e edição por Mackenzie Melo. Edição complementar por Roberto Rudiney. Participação Especial: Gabriel Franklin.


Socorro (versão em texto)

Será que algum dia a ciência vai ser capaz de explicar o impulso humano de querer desobedecer em vez de seguir ordens ou sugestões de seus chefes, superiores ou responsáveis? Se souberem o porquê disso, por favor me expliquem, pois, mais uma vez, eu vou pular o pedido original. Dessa vez é por uma boa causa (será que as outras não foram?), mas mesmo assim, não avisem a eles, por favor.

Volto pelo menos uns 28 anos no tempo e me vejo agora em uma sala de aula, num cursinho pré-vestibular em Natal. Estou me perguntando se os jovens de hoje ainda sabem o que é isso... Digressões desnecessárias, que só me fazem me sentir mais velho...

Todas as tardes eu ia à Escola Técnica Federal do Rio Grande do Norte como parte do curso de Técnico em Edificações que fazia. Como todos que chegaram a fazer cursos técnicos sabem, o que aprendemos nesses cursos não era suficiente para passarmos no vestibular que cobrava matérias como História, Química e Literatura, por exemplo. Daí a necessidade de fazer um curso intensivo de um ano com as matérias dos três anos do curso científico regular das escolas. Esse cursinho (era assim que chamávamos) eu fazia pela manhã e de lá saía para o curso técnico, onde ficava a tarde inteira.

Algo que eu tomei conhecimento apenas na época do cursinho foi que existiam professores muito diferentes do que consideraríamos convencionais e que mais pareciam show-men do que professores “de verdade”. Tinha de tudo em nossas aulas, de seriedade a comédia, de música a contação de história. Além disso, quando esses cursinhos preparavam aulões – mega aulas em ginásios para centenas de alunos ao mesmo tempo – muitas vezes eles convidavam professores ainda mais extravagantes. Dentre eles havia aqueles que cantavam. Alguns deles cantavam músicas (melodias) conhecidas com letras modificadas para explicar algum determinado conteúdo que cairia nas provas. Já outros compunham suas próprias músicas com letras que também abordavam temas específicos. Praticamente em todas as matérias tinha um professor cantor/compositor. Biologia, física, matemática, química...

“Socorro”, vocês podem estar gritando! “Sério que você vai falar de estudo”? E, por que não?, me pergunto.

Como em uma ode à nossa capacidade cerebral, o MelodySheep tem feito algo bem semelhante a isso que acabei de descrever, música que ensina. Uma diferença fundamental, entretanto, é que ele não é o professor. Os professores são cientistas. Explico.

Carl Sagan, Neil deGrasse Tyson, Richard Feynman, Bill Nye, Stephen Hawkins, Carolyn Porco, Jill Bolte Taylor e muitos, muitos outros, escreveram as letras das músicas que compõem esse álbum essencial na coleção de todos que desejamos, realmente, aprender e progredir. E fazemos isso, por exemplo, usando o cérebro que coleta essas informações em forma de energia que jorra simultaneamente através de nossos sistemas sensoriais e então explode nessa enorme colagem que representa o que sentimos e ouvimos neste exato momento. E nesse momento, nessa descoberta, nos sentimos perfeitos, integrais e lindos.

O álbum se intitula Symphony Of Science (S.O.S.) e nos leva em uma jornada gigantesca ao redor do universo, pela Terra e outros planetas, mas também a dentro de nós mesmos em uma coleção de 23 músicas. MelodySheep – nome artístico de John D. Boswell – transforma prosa em poesia quando junta trechos de falas, palestras, programas de tv e discursos de divulgadores da ciência para montar essa cacofonia sonora e poética que nos ensina sobre sermos, por exemplo, filhos da África. Seres que lá atrás nem sequer conheciam a roda, mas que a imaginaram e que com essa imaginação incontrolável um dia conseguiram se lançar junto com suas máquinas voadoras ao espaço interplanetário. E nada disso foi conseguido por apenas uma mente. Fizemos isso unidos.

Trabalhando juntos, eu digo, nós podemos mudar o mundo. Um dia o mundo foi dominado por dinossauros. Depois de extintos, nós aparecemos e sonhamos alto. Sonhemos com o amanhã. Sonhemos grande. Desejemos navegar em alto mar. Visões audaciosas tiveram e têm o poder de mudar as mentes das pessoas sobre coisas que antes pareciam impossíveis. Muitas vezes o que foi impossível no passado hoje já é ultrapassado. Por isso devemos continuar tendo essas visões.
Talvez nunca cheguemos no horizonte. Mas quando imaginamos que é lá que queremos chegar para podermos ver o que tem depois e isso nos faz caminhar em direção a ele, é isso que devemos continuar fazendo.

Viajemos na direção dessa borda, desse limite que talvez nunca alcancemos. Vai ser aí, então, que perceberemos a necessidade de amar. Amar não as respostas que buscamos, mas as perguntas que formulamos.

Questionemos, sempre nos apoiando em ombros de gigantes, para podermos sentir, ver, ouvir e perceber cada vez mais longe. E então, quem sabe, quando estivermos olhando para tão longe também notemos que temos todo um universo dentro de nós e que a ciência feita com amor e sem preconceitos poderá nos ajudar a encontrar a completude espiritual que tantos de nós busca e um dia conseguiremos, também através da Ciência, conhecer a mente de Deus.

Saibamos o nosso lugar no universo, no cosmos, mas saibamos também que podemos e temos o dever de continuar buscando, pesquisando, querendo descobrir. Como nos afirma Carl Sagan, “nossa obrigação de sobreviver e florescer não é devida apenas a nós mesmos, é devida também a esse Cosmos, antigo e vasto, de onde nós surgimos”.

Sobrevivamos. Mas, além disso, vivamos. Não estamos sozinhos. Estamos todos interconectados. O que cada um faz influencia a vida de cada um dos outros elementos do universo inteiro. Caso nos sintamos sozinhos e desconectados, gritemos por socorro, façamos sinal de fumaça, enviemos nosso S.O.S. Vai ter sempre alguém nos ouvindo, pronto e disposto a nos ajudar. Onde quer que estejamos, estamos interconectados, como notas musicais em uma sinfonia.

É isso. Poderia ficar falando por horas sobre essas músicas, mas o melhor mesmo é que vocês possam experimentá-las por si sós. Aproveitem a maravilha que é ouvir pessoas apaixonadas falarem e cantarem sobre aquilo que amam e que veem como uma luz que pode mudar o mundo.

É lindo.

P.S.: continuo acreditando que um dia conseguirei finalizar algo que começo. Percebo que se por um lado cada dia pareço me afastar mais e mais do primeiro texto que iniciaria essa coluna, e cada dia pareço chegar mais perto de um dia escrevê-lo isso não passa de uma ilusão. Sendo o tempo infinito, eu me afasto sim do começo, mas não consigo ver o final do tempo quando conseguirei chegar lá. Essa é minha percepção. Preciso de uma segunda opinião. Alguém ajuda?

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Agradecimento

Quero agradecer a Gabriel Franklin, nosso Gabs, pela - pequena, mas - fundamental participação neste episódio fazendo a voz brasileira de Carl Sagan. Desde que pensei em colocar alguém falando essa frase, foi ele que tive em mente. Fiquei muito feliz por ele ter aceito e já agradeci profusamente a ele por isso. Agradeço aqui novamente.

Obrigado, Gabs.


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