[lado a] 05. Money | Iradex

[lado a] 05. Money

Money é um conto escrito por Gabriel Franklin e distribuído em primeira mão aqui no Contos Iradex. Embarque nessa leitura.


Money

Às 10:21 o alarme do banco disparou.

Fora um roubo clássico de sucesso, com direito a “Todo mundo pro chão!”, ladrões encapuzados, armas high tech, reféns chorosos, um cofre impossível de abrir que acaba aberto. Tudo como manda o script.

E agora, estava na parte mais clássica de todas: a perseguição de carro.

Dez minutos depois do soar do alarme, ele ouviu as sirenes dos carros de polícia e soube que estava na hora de dar no pé. Já tinha os milhões que viera buscar, então fez sinal para seus comparsas começarem a se dispersar e entrar nos carros que os aguardavam do lado de fora. De acordo com o plano, eles se dividiriam em três carros para tentar despistar a polícia. Mas o dinheiro todo iria em apenas um deles, o mais veloz.

E é justamente no assento do passageiro do carro mais veloz que ele está agora. A adrenalina percorre suas veias e lhe enche de excitação. “É, acho que poderia me acostumar com isso. Realmente é como todo mundo sempre disse que seria”, consegue pensar em meio ao guincho de pneus derrapando e de tiros sendo disparados.

A polícia parece não ter mordido a isca e persegue o carro em velocidade alucinante com voracidade. Provavelmente valerá uma bela promoção para quem o pegar primeiro.

As pessoas nas ruas jogam-se no chão, tentando sair da frente dos veículos desgovernados que ameaçam causar uma tragédia nas calçadas. Os tiros disparados geralmente erram o alvo, acertando as paredes dos prédios e uma ou outra pessoa que teve a infelicidade de estar no lugar errado na hora errada. Os que acertam o alvo praticamente não surtem efeito, pois o carro continua como se nada tivesse acontecido. Ou os policiais tem péssima pontaria, o que não seria absurdo, ou o veículo escolhido pelo especialista que ele contratou realmente fez valer o investimento.

A perseguição fica mais violenta, com helicópteros atirando dos céus e bloqueios com blindados em terra. Quase que magicamente, seu motorista consegue desviar de tudo isso. Parece sempre ter um atalho especialmente planejado para a situação, quase como se pudesse saber exatamente o que os perseguidores fariam em seguida.

Ali, do banco do passageiro, ele não precisava fazer praticamente nada. Apenas se segurar e aproveitar a tresloucada aventura. Vez ou outra, apenas por diversão, ele soltava o cinto de segurança e disparava alguns tiros em direção aos perseguidores, mas que não causavam nenhum efeito, perdendo-se em qualquer canto lá atrás.

Aos poucos, o carro foi ganhando vantagem sobre os perseguidores, ganhando na potência de seus milhares de cavalos ao terem chegado à auto estrada. Deixaram a cidade para trás e encaminhavam-se para o ponto de encontro escolhido, em um galpão abandonado de uma antiga fábrica de tecidos. Nesse tempo todo, não passou por sua cabeça o que tinha acontecido com os outros integrantes do banco. Ele não se importava. A única coisa que realmente era importante era que o roubo fora um sucesso, ele estava bem e com alguns milhões no banco traseiro do carro.

Chegando ao armazém, o motorista estacionou no exato local onde fizeram a reunião na noite anterior e desligou o motor. O carro fumegava, tendo sido levado ao extremo de suas capacidades mecânicas. Em sua lataria não havia nenhuma marca de bala ou de uma batida sequer. Daria uma belíssima gorjeta ao motorista!
Descendo do carro, ele deu um berro de excitação que deixou o motorista assustado. Mesmo com as pernas tremendo, ele sentia-se vivo depois de muito tempo e não pode se controlar. Essa adrenalina toda era viciante!

No entanto, um pensamento começou a se formar em sua mente enquanto ele olhava para os montes dinheiro que estavam no carro, dinheiro esse que era seu antes mesmo de ele ter roubado do próprio banco. Se ele pagara pra viver aquilo tudo e gostara tanto, não poderia mais ficar sem essa sensação.

O que faria da próxima vez? Não poderia simplesmente repetir o roubo. Teria que fazer algo mais emocionante ainda. Então, o que poderia ser mais emocionante do que um roubo clássico, com perseguições de carro e tudo mais?

A resposta veio rápida como um relâmpago: uma guerra!

Ele faria uma guerra!

Não deveria ser difícil comprar uma. Tudo tem seu preço. Tudo. E dinheiro ele tinha de sobra.


Esse conto foi escrito por Gabriel Franklin para o Contos Iradex. Para reprodução ou qualquer assunto de copyright o autor e o blog deverão ser consultados.


Sobre o autor: Gabriel Franklin é formado em Direito e cursou Letras pela Universidade Federal do Ceará. Trabalhou muito tempo como atendente de uma das maiores livrarias do Brasil e dedica-se, desde 2013, a dar opiniões no Iradex. Seu objetivo? Ler todos os livros do mundo.
Sobre o projeto: Contos Iradex é uma iniciativa daqui do site de colocar textos, contos, minicontos ou até livros mais curtos para a apreciação de vocês, leitores. Emendaremos algumas sequências com materiais da própria equipe e, em seguida, precisaremos de vocês para mais publicações. Se você tiver uma ideia de projeto, envie um e-mail para contos@iradex.net.