Imagine um filme dos irmãos Coen.
O plot inusitado, os personagens excêntricos com personalidades dúbias, o humor um tanto quanto negro que vem em momentos inconvenientes e que faz sempre você se perguntar “por que eu to rindo disso?” e/ou “eu deveria estar rindo disso?”.
Imaginou, certo? Então tudo isso está presente aqui, menos os irmãos Coen.
Três Outdoors são colocados em uma cidadezinha pacata dos Estados Unidos, fazendo uma provocação de Mildred para a polícia local (em especial para o chefe Willoughby) que não conseguiu descobrir o paradeiro do assassino de sua filha. Isso gera uma comoção na população, já que o chefe Willoughby é um homem bem quisto e passa por dificuldades em sua vida pessoal.
O enredo pode parecer pesado, e de fato é, mas o diretor e roteirista Martin McDonagh aborda a história transitando por momentos de humor que, ao contraio do efeito causado em alguns filmes onde isso corta a emoção, na verdade acabam contribuindo ainda mais para o drama e desenvolvimento dos personagens. Muitas vezes é dado um toque de humor negro dentro de situações propositalmente inapropriadas, e a consequência disso é que o publico fica o tempo todo se questionando sobre o quão culpada é aquela risada.
O filme também conta com um vasto elenco e, mesmo não sendo possível dar um desenvolvimento profundo para todos, são mostradas características que os dão personalidade e, pelo menos, um momento em tela para nos lembrarmos deles. Se faz necessário destacar Frances Louise McDormand que dá vida a Mildred, uma mulher forte, obstinada, desbocada e que ao mesmo tempo sofre com falta de respostas sobre a perda da filha e isso não é dito só com suas palavras, mas também com seu olhar. Woody Harrelson interpreta o Chefe Willoughby, um homem carismático, ciente de seus erros e que luta contra algo mais forte que ele, segundo seu próprio julgamento. E por último Sam Rockwell que tem como papel o policial Dixon, um personagem racista, violento, mimado e facilmente odiável, porém o roteiro é tão cuidadoso que mesmo sendo uma figura detestável você o entende e possui mais camadas do que aparenta ter. Também compõem o elenco Peter Dinklage, John Hawkes e Lucas Hedges, todos com pouca presença, todavia, operantes em suas funções.
O diretor também utiliza várias rimas visuais para contar sua história. Muitas vezes personagens são enquadrados da mesma forma que outros foram anteriormente, evocando sentimentos passados ou colocando-os no mesmo patamar. Isso contribui para deixar a narrativa mais rica e complexa de ser observada.
Muito me perguntei sobre a questão de originalidade ou personalidade da obra, já que diversos elementos parecem ter como referência trabalhos mais consolidados de outras pessoas. Porém, todas as peças são tão bem encaixadas e funcionam com uma harmonia quase orgânica que seria injusto penalizar uma obra por isso. Algo que realmente pode desagradar é a utilização de uma personagem com um estereótipo de “mulher jovem e burra”. É uma ferramenta barata e mesmo que as piadas funcionem, é pobre narrativamente falando. Felizmente isso é uma parte mínima e não afeta o todo de forma significativa.
Três Anúncios para um Crime (Three Billboards Outside Ebbing, Missouri) é um filme engraçado, emocionante, ácido, marcante e só me deixa com mais curiosidade por mais roteiros escritos por Martin McDonagh.