O singelo encontro de realidades
A relação professor e aluno, aprendiz e mestre, já rendeu inúmeras obras com reflexões relevantes para a sociedade. Estreando dia 05 de outubro nos cinemas brasileiros, “O Melhor Professor da Minha Vida” também é capaz de trazê-las, fazendo-o com competência e simplicidade.
A trama conta como o experiente professor François Foucault (Denis Podalydès), que leciona num renomado e tradicional colégio no centro de Paris, acaba sendo obrigado a aceitar um convite para assumir uma turma numa escola na periferia durante um ano.
O primeiro contato que temos com Foucault (seria a escolha do nome uma provocação?) é nitidamente para causar uma certa repulsa ao professor. Caminhando por entre as mesas na classe, ele distribui as notas das dissertações dos alunos em voz alta, acompanhado de um comentário ácido e agressivo, manifestando raros elogios para os poucos com bom aproveitamento. Ríspido, seco e disciplinador, ele é o que comumente chamaríamos de “caxias”. A simplicidade da cena de apresentação dá o tom do restante do filme.
Rapidamente, François é colocado em uma situação desafiadora por consequência de seu próprio ego. Ao chegar na nova escola, ele se depara com colegas mais novos, mas que aparentemente estão fartos da missão em que foram empregados e que o tratam numa relação típica de quem acabou de mudar de local de trabalho. Tentam parecer simpáticos e solícitos, mas também se entreolham com a mensagem de que o “novato” não irá aguentar. O real choque é dentro de sala, como esperado e até óbvio. A falta de disciplina, o conteúdo defasado que os alunos já deveriam ter aprendido, a dificuldade de comunicação não somente pelo choque de geração como de classes são explicitamente explorados. Principalmente por Seydou (Abdoulaye Diallo), aluno que desafia a autoridade do professor, porém sem a agressividade que esperamos neste tipo de história.
Essa dinâmica começa a gerar a fricção entre os personagens, que é combustível e motivação para o reposicionamento de Foucault, que percebe a necessidade de mudança de postura, inclusive num afrouxamento, até certo ponto, de sua rígida disciplina, tentando adequar e abordar a realidade diferente de uma escola de periferia numa das maiores cidades do mundo. A abordagem com a questão da imigração e pobreza é levemente abordada, assim como as histórias paralelas dos demais alunos que poderiam ser um pouco melhor aprofundadas.
Apesar disso, o filme traz importantes questionamentos e reflexões, principalmente com relação à aproximação do mestre, que deve sair do seu “alto” lugar de conforto, confrontando a sua perspectiva de que todos os alunos apresentarão profundo interesse no conteúdo apresentado.
Com atuação simples e segura de Denis Podalydès, “O Melhor Professor da Minha Vida” é singelamente uma boa aula de humildade, sensibilidade e, por que não, humanidade.