Por Roberto Rudiney
“Bingo: O Rei das Manhãs” conta a história de Augusto Mendes, um ator de pornochanchadas que encontra fama quando passa a interpretar o palhaço Bingo em um programa voltado para o publico infantil na década de 80.
Na verdade o enredo tem como base a vida de Arlindo Barreto, um dos muitos intérpretes do palhaço Bozo.
Essa opção de esconder os nomes reais de pessoas e empresas envolvidas na época dá ao roteirista, Luiz Bolognesi, a liberdade para explorar os aspectos mais controversos de seu protagonista. Abuso de drogas, sexo, sua relação com as mulheres e filho são todos mostrados sem pudor.
Daniel Rezende, estreando na direção do seu primeiro longa (apesar de ter um vasto trabalho como editor, conquistando grandes prêmios, como o BAFTA por “Cidade de Deus”) mostra um total controle da história que quer contar, conseguindo equilibrar comédia, drama, pitadas de terror e até mesmo sequências surreais. Tudo sem deixar que um tome o lugar do outro, mantendo assim uma coerência na linha narrativa.
Outro que também transita por várias facetas é o ator Vladimir Brichta, intérprete do protagonista, que consegue dar vida a um personagem complexo e cheio de camadas. Augusto é ao mesmo tempo um pai carinhoso, um filho atencioso, um homem com uma personalidade autodestrutiva, sedento por fama e reconhecimento e, acima de tudo, um palhaço excepcional.
O elenco de apoio também não fica para trás, compondo personagens com importância para a trama e com personalidades próprias. Vale destacar Lúcia, a diretora do programa infantil apresentado por Bingo, vivida por Leandra Leal. Além de ter o papel de controlar toda a loucura, tanto do programa quanto do seu apresentador, Lúcia ainda tem uma relação dúbia com Augusto. Ao mesmo tempo em que reprova suas ações e seu jeito de viver, ela guarda certa admiração e preocupação com ele. Outro importante personagem é o cameraman Vasconcelos, interpretado por Augusto Madeira, que funciona como um diabo no ouvido de Augusto, colocando ainda mais lenha em suas ambições e desejos.
Há de fato um elemento nostálgico que pode trazer para quem era fã do palhaço Bozo, ou quem viveu na época, um ponto a mais de interesse, mas em momento nenhum isso exclui aqueles que não viveram esses tempos. O público se sente abraçado por toda a loucura dos anos 80.
Um ponto negativo da obra é que existe certa disparidade de tempo entre os atos, sendo o último o mais curto. E é logo nessa parte derradeira que seria necessário mais tempo de tela para que as emoções de Augusto fossem mais sentidas. Além disso, por conta da rapidez com que as coisas acontecem, as decisões tomadas pelo protagonista e os caminhos que ele opta no desfecho acabam parecendo muito simplórias e sem muito peso.
“Bingo: O Rei das Manhãs” é um filme com muitos acertos e pouquíssimos erros que, de forma geral, não atrapalham em praticamente nada na experiência. Com certeza um dos melhores lançamentos nacionais do ano.