A Face Mágica | Iradex

A Face Mágica

Alguns heróis foram feitos para grandes aventuras. E, para estes, basta uma jornada longa ao lado de amigos e um desafio mortal acompanhado de uma grande recompensa ao final.

A Face Mágica é um conto de aventura escrito por Marcio Moreira e distribuído em primeira mão aqui no Contos Iradex. Embarque nessa leitura.


A FACE MÁGICA

A sorte estava em sua mão, e a esfregava como se fosse um terço.

  O caminho até ali havia sido desafiador. Muitas experiências foram adquiridas, e agora ele e o seu grupo se sentiam preparados para aquele momento. Encontravam-se em um patamar repleto de novas possibilidades. Abastecidos pela promessa da última recompensa. A maior de todas. Mas antes seria preciso terminar de fazer o que era inimaginável em dias de outrora: entrar nas entranhas da terra, e matar um dragão em seu próprio covil. Espantosamente, apenas eles poderiam cumprir aquele trabalho. E ainda mais estarrecedor saber que pessoas de tal valor eram vistas como heróis apenas em reinos como esse.

Grivindel disparara dúzias de flechas envenenadas, conseguindo apenas que umas três cravassem entre as escamas encouraçadas da fera. Zorothan transformara suas palavras imponentes em uma luz cintilante e intensa, capaz de cegar todos os seres das trevas que residissem naquele lugar. Agora era a oportunidade de Eder atacar novamente. Mas ele ponderou se valeria a pena continuar arranhando o couro do bicho com o seu machado, ou se era o momento de criar uma estratégia mais eficaz. Foi aí que ele olhou ao redor e percebeu que o canto das flechas e das magias cessaram. Seus amigos estavam fora de combate.

Então decidiu ser criativo e estratégico, pois pairava em seus ombros o sucesso de toda a missão.

– O que você vai fazer? – disse a voz imparcial do ser invisível que sempre os questiona.

O aventureiro não tinha muitas opções. Precisava vencer a pele grossa da besta, que agora apontava as narinas esfumaçadas em sua direção. Um passo, dois passos... O próprio existir parecia chacoalhar conforme as patas do animal esmurravam o chão do calabouço. A cada tremor, o rugido grave da fera elevava o seu volume. Quanto mais o som ensurdecedor feria os ouvidos, mais calor vinha anunciar que uma próxima lufada de fogo estava por vir. Nesse instante, um emaranhado de recordações, de sua breve carreira, tomou parte da atenção de Eder. Lembrou-se da taverna Espada Flamejante, onde a guilda composta por ele e seus companheiros nascera. Pensou nos primeiros desafios, os primeiros tesouros, os orcs que matou, as risadas que deu, os outros que viveram antes dele, mais tesouros, ainda mais orcs e goblins que matou... E por último, o dia em que aceitaram esse trabalho, em troca de peças de ouro que jamais serão desfrutadas, e histórias que só serão apreciadas por outros aventureiros.

A voz que emulava a sua consciência – agora o chamando por outro nome – o apressava para que tomasse uma atitude. A besta já estava no terceiro... Quarto passo... E Eder, inerte, se mostrava seguro em seu misterioso plano. Do alto de uma rocha, fitava a vil e colossal criatura nos olhos. Olhos repletos de fúria e intimidação.

– O que você vai fazer, Eder! – Estava claro que aquela pergunta não iria se repetir.

Milhares de coisas podem acontecer entre uma ação e outra, mas poucas são dignas de serem narradas. Da mão de Eder, a sorte queria fugir. Prostrados no chão, o mago e a elfa tentavam entender a demora do guerreiro. No centro daquele mundo, com certeza, só havia um homem desafiando um dragão vermelho, que a uma mordida de distância, revelava o interior de sua bocarra, repleto de um inferno em chamas douradas.

Agora!

Rarúlk – como também é conhecido Eder – colocou tudo o que tinha em seu braço direito, quando ergueu o seu machado de guerra, passando-o por cima da cabeça, e terminando em um giro de corpo, responsável pelo arremesso da arma.

– Engula isso, monstro maldito! – Vociferou o Bárbaro – Que a sua garganta seja a morada final do meu machado.

Eder então deixou a sorte cair sobre Rarúlk. Com apenas um abrir de suas mãos, o objeto mais poderoso desse e de muitos outros universos foi acionado. Trata-se de um item capaz de determinar o caos e a ordem de vidas e realidades inteiras. Até mesmo das que se quer foram criadas ainda.

Quicou poucas vezes.

Rolou ao longo de curtos centímetros.

O tempo, por mais uma vez, parou por dois segundos.

O machado ainda estava em pleno voo.

E então, o icosaedro parou de rolar.

Na exata interseção formada pela linha de visão dos quatro, revelou a sua mais mágica face. Aquela que quando voltada pro alto, faz surgir, em uníssono, um brado de júbilo. Um grito de guerra e celebração muito aguardado pela Guilda da Mesa de Vidro, em todas as noites de sexta.

VINTEEEE!


Esse conto foi escrito por Marcio Moreira para o Contos Iradex. Para reprodução ou qualquer assunto de copyright o autor e o blog deverão ser consultados.


Sobre o autor: Marcio Moreira é viciado em uma cachaça chamada criação, exerce uma profissão chamada arquitetura, é o fundador de um podcast chamado Maná com Manteiga. É apaixonado por RPG, e por isso também colabora com um site chamado Perdidos no Play. Sofre de um mal também conhecido como ansiedade, compra mais livros do que é capaz de ler (ele ainda não sabe como se chama isso) e queria mais tempo para seus hobbies, do que uma coisa chamada tempo é capaz de lhe dar.
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