A Praia: Parte 1 - Noite | Iradex

A Praia: Parte 1 - Noite

Às vezes temos momentos tão incríveis em nossa vida, que fica difícil de acreditar que eles realmente ocorreram. A partir de hoje você vai acompanhar a história de um desses momentos. Se a história é verdadeira ou não, cabe a você julgar.

A Praia é um conto inusitado, escrito por Gabriel Franklin e distribuído em primeira mão aqui no Contos Iradex. Embarque nessa leitura. O conto será publicado em 3 partes, sempre às terças-feiras a partir de hoje, 4 de agosto, até o dia 18 de agosto.


SUMÁRIO

- Parte 1 - Noite

- Parte 2 - Madrugada

- Parte 3 - Alvorada


NOITE

Você já foi à praia de noite? Provavelmente sua reposta será sim, pois você vai lembrar daquele réveillon que passou pulando sete ondinhas ou daquela caminhada que fez antes de bater palmas pro pôr-do-sol. Mas não é disso que estou falando. Não é dessas noites especiais ou com propósito. O que quero saber é se você já foi à praia numa noite chuvosa de segunda feira. E aqui eu acho que te peguei, porque dificilmente você fez isso. Mas eu já. Não só uma, mas várias vezes. E não só numa segunda feira, mas na maioria das outras noites da semana.

Antes que você comece a achar que eu sou meio maluco, já adianto: eu sou meio maluco! Não consigo dormir direito à noite (por fatores que eu não tenho intimidade suficiente com você pra contar ainda, talvez daqui a algumas semanas) e por isso troco meus horários de forma drástica. Se bem que você ficaria impressionado com a quantidade de coisas interessantes que há para se fazer durante a madrugada.

Uma das que eu mais gosto é correr. É, isso mesmo. Correr. Não corro pra socializar, perder peso ou superar meus próprios limites (Detalhe: eu não sou e nem pretendo ser tri-atleta ou maratonista). Não. Eu corro porque é legal. Principalmente à noite.

Comecei correndo numa praça próxima à minha casa, mas em um determinado momento cansei de ficar vendo a mesma paisagem volta atrás de volta. Resolvi então correr pelas ruas mesmo. É incrível a sensação de percorrer ruas desertas; você devia tentar qualquer noite dessas. É como se a cidade fosse só sua. Dá uma tranquilidade, uma paz. Além de você poder escutar no fone de ouvido as músicas que você quiser, na altura que quiser, sem ninguém olhando torto ou dizendo que isso vai te deixar surdo.

É lógico que se você corre pelas ruas, em um determinado momento tem que parar e voltar. Mas você não volta de imediato, claro. Tem que descansar um pouco; principalmente se seu condicionamento físico não é lá essas coisas todas.

Geralmente eu parava em frente a um shopping que fica a cerca de 3 km da minha casa. Ficava lá uns 15 minutos recuperando o fôlego e refazia o caminho de volta. Mas à medida que o tempo foi passando, aquela distância foi parecendo muito curta. Mal tinha começado a correr e já chegava ao shopping. Em uma determinada semana resolvi ir mais longe. Na outra, um pouco mais. Quando percebi, tinha chegado à praia, e não havia mais como seguir em frente (Detalhe: ainda não consegui desenvolver a técnica de andar sobre as águas, muito embora tenha tentado algumas vezes; em segredo, é claro).

Fiquei ali parado um tempo, descansando. E a paz que eu sentia ao correr se estendeu, somando-se ao marulho das ondas. Percebi que aquele seria meu novo ponto de repouso, e desde então passei a frequentá-lo quase que diariamente.

Você pode me perguntar se eu não tenho medo durante essas minhas aventuras noturnas. E eu vou responder que não. Poucas coisas me assustam no mundo; tenho medo apenas de ratos, e de pessoas. Como durante o caminho não me deparo com muitos indivíduos dessas duas espécies, fico de boa. Na praia também é difícil encontrar alguém, mas quando acontece geralmente é um evento singular.

Já vi gente correndo pelada com cone de trânsito na cabeça (esse dia foi engraçado); presenciei gente fazer pedido de casamento e brigar com o parceiro 10 minutos depois (esse dia foi triste); testemunhei gente em rodinha de violão sair correndo porque começou a chover (achei foi pouco); ouvi gente fazendo gente (mais de uma vez); e até respondi em que ano estávamos pra um senhor que saiu de dentro do mar (era um viajante do tempo, com certeza).

Pela boa coleção de histórias, acho que você percebeu que venho fazendo isso há algum tempo. Mas nenhuma delas é tão fantástica quanto a que eu realmente quero contar pra você a partir de agora.

Continua...


Esse conto foi escrito por Gabriel Franklin para o Contos Iradex. Para reprodução ou qualquer assunto de copyright o autor e o blog deverão ser consultados.


Sobre o autor: Gabriel Franklin é formado em Direito e cursa Letras pela Universidade Federal do Ceará. Trabalhou muito tempo como atendente de uma das maiores livrarias do Brasil e dedica-se, desde 2013, a dar opiniões no Iradex, tanto no site como no podcast. Seu objetivo? Ler todos os livros do mundo.
Sobre o projeto: Contos Iradex é uma iniciativa daqui do site de colocar textos, contos, minicontos ou até livros mais curtos para a apreciação de vocês, leitores. Emendaremos algumas sequências com materiais da própria equipe e, em seguida, precisaremos de vocês para mais publicações. Se você tiver uma ideia de projeto, envie um e-mail para contos@iradex.net.