Philip K. Dick – O homem por trás dos androides | Iradex

Philip K. Dick – O homem por trás dos androides

“A realidade é aquilo que, quando você para de acreditar, não desaparece.”

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Você nem sabe, mas esse senhor de nome eroticamente engraçado já lhe proporcionou aproximadamente 22 horas de deleite sci-fi (principalmente se você assistiu televisão durante os domingos dos anos 90). Ou seja, você gastou praticamente um dia inteiro de sua existência sendo entretido pela mente de uma pessoa que nem tinha ideia de quem era.

Isso porque das mais de 150 obras que Dick publicou (entre contos e romances), 11 foram transformadas em filmes. Blade Runner, O Vingador do Futuro, Minority Report e Agentes do Destino são alguns dos que mais fizeram sucesso.

Antes que você comece a se sentir mal por nunca ter dado o devido crédito a este incrível autor, saiba que não está sozinho. Durante sua vida, que foi bem curta (ele morreu com 53 anos apenas), suas obras mal tiveram reconhecimento do grande público, o que o levou a passar severas dificuldades financeiras. Não bastasse isso, casou cinco vezes, teve problemas com drogas e experiências que beiravam a esquizofrenia. Uma vida bastante atribulada.

Sua genialidade residia justamente em transformar muitas de suas experiências frustrantes em combustível para enredos recheados de conflitos e questionamentos de extrema profundidade. Mais do que estórias de ficção científica, o que sentimos ao ler seus livros é algo difícil de descrever senão através da palavra transcendência.

Agora que você já conheceu um pouco da pessoa, que tal a gente ver um pouco das suas incríveis obras?

O Homem do Castelo Alto

The Man in the High Castle

"O historiador e o poeta não se distinguem um do outro pelo fato de o primeiro escrever em prosa e o segundo em verso. Diferem entre si, porque um escreveu o que aconteceu e o outro o que poderia ter acontecido."

O-Homem-do-Castelo-AltoAristóteles disse isso em sua Poética, aproximadamente três séculos antes de Cristo, e desde então a literatura fantástica se molda em variações de um único e grandioso “E se...”.

O “E se...” que Dick escolheu para seu primeiro livro é relacionado a um dos acontecimentos que mais influenciou sua vida: a Segunda Guerra Mundial. Como seria o mundo se, ao invés de uma vitória dos Aliados, o Eixo tivesse prevalecido? Os judeus teriam sido extintos ou virado escravos? Hitler seria Imperador do Mundo? O alemão seria ensinado nas escolas ao invés do inglês? Leia e você vai ter todas essas respostas, e muito mais!

Além de ser uma de suas primeiras publicações, foi também uma das mais premiadas; ganhou o Hugo Award de 1963 (uma espécie de Oscar da literatura de ficção científica). Também, pudera, com um enredo como esse só poderia merecer a premiação que teve.

Os Três Estigmas de Palmer Eldritch

The Three Stigmata of Palmer Eldritch

Os-Tres-Estigmas-de-Palmer-Eldritch-399x600Como a Terra fica cada vez mais poluída e estéril, a colonização planetária é mais do que uma opção, é uma necessidade. Marte não é mais um sonho. Mas está longe de ser um sonho bom.

Com o intuito de instigar os terráqueos a irem para o enfadonho trabalho de colonização em Marte, o governo mundial desenvolve um sistema de emigração que conta com uma série de benefícios, entre elas a possibilidade de o colono se drogar legalmente com a famosa Can-D (sim, é um trocadalho do carilho com candy).

Essa maravilhinha psicotrópica permite que os colonos assumam o papel de uma Barbie das estrelas, ou seu Ken equivalente. A “viagem” dos colonos alucinados se dá dentro de uma verdadeira casa de bonecas, com vários cômodos e réplicas de utensílios, enfeites e móveis. Tudo feito de forma a tornar a coisa o mais real possível.

Como o ser humano é a raça que mais sabe ganhar dinheiro no Universo, rapidamente surge uma nova indústria na Terra, a da moda miniaturizada. Mas como saber se um determinado móvel ou enfeite vai fazer sucesso entre os colonos? Por que não prever o futuro?

É aí que entram os precogs, indivíduos que podem fazer previsões do futuro e que são contratados pelas empresas com os maiores salários do mercado (os precogs aparecem em vários outros livros de Dick, como Minority Report).

Isso tudo que eu falei até agora é só pra te deixar no ponto em que o livro começa, quando um famoso astronauta, Palmer Eldritch, supostamente retorna de sua viagem aos confins do Universo.

Na humilde opinião desse reles mortal que vos escreve, este é o maior exemplo da genialidade (loucura) de um escritor. Em outras palavras, meu preferido.

Androides sonham com Ovelhas Elétricas?

Do Androids Dream of Electric Sheep?

androides-sonham-com-ovelhas-eletricasMais uma vez Dick nos leva a um futuro onde a Terra se tornou um local praticamente inabitável. Após uma guerra nuclear, a Guerra Terminus, a humanidade se vê forçada a emigrar para Marte, pois a Terra já não oferece recursos para a sobrevivência, além de chover ácido e radiação ser emanada nas ruas.

A maioria dos animais morreu e os que sobraram são vendidos como artigos de luxo a preços exorbitantes. Como alternativa, existem os animais eletrônicos, que são praticamente indistinguíveis dos legítimos de carne e osso. E não é só pra animais que a tecnologia avançou. Os robôs humanoides, ou andys, estão cada vez mais avançados, chegando ao cúmulo de serem realmente confundidos com seres humanos. Por isso, eles são usados apenas nas colônias e são proibidos na Terra.

Para proteger a população, a polícia contrata caçadores de recompensa para localizar e aposentar os andys que porventura vierem para a Terra clandestinamente tentar se passar por humanos. Acompanhamos um desses caçadores, Rick Deckard, cujo sonho é ter um animal de verdade e se livrar da sua ovelha elétrica.

Talvez a obra mais conhecida de Dick, inspirou o famoso filme Blade Runner, dirigido por Ridley Scott. Apesar de várias diferenças existirem entre os dois, Dick ficou bastante contente com o pouco que viu do filme, afirmando que seria um marco para o cinema. Não chegou a ver o filme inteiro, pois faleceu alguns meses antes da estreia.

Ubik

Quando a gente morre acaba definitivamente nossa utilidade para sociedade, certo? Errado!

Em Ubik vamos encontrar uma rede de informação criada através das consciências em suspensão de pessoas mortas. Uma não; são pelo menos duas redes. E elas duas vão disputar a hegemonia sobre a “real realidade”.

Bizarro? Com certeza. Mas pode ter certeza que vale a pena ler cada linha! Não à toa, a revista Time elegeu esse um dos 100 melhores livros já publicados.

Fluam, minhas lágrimas, disse o Policial

Flow My Tears, the Policeman Said

Não estranhe o título; são vários os livros/contos com títulos longos (pelo menos os originais).

Nesse aqui a gente vai encontrar um bem sucedido indivíduo que um dia acorda sendo outra pessoa, sem fama, amigos ou sequer dinheiro. Muito legal o enredo, e apesar de nunca ter achado nada referente a isso, achei bem parecido com o de um filme chamado Cidade das Sombras (Dark City) que vale a pena ser conferido.

Foi publicado depois de um longo tempo de reclusão de Dick, e nele podemos perceber uma extrema vontade de começar de novo, do zero, ser outra pessoa. Fofocas de bastidores dão conta de que o livro foi escrito durante misto de crise de esquizofrenia/ overdose de remédios/ abstinência dos remédios.

Realidades Adaptadas

Realidades-adaptadas-01Compilação de vários contos de Dick que viraram filmes. Destaque para os contos originais de Minority Report, O Vingador do Futuro e Agentes do Destino. Esses nem precisa detalhar por que você já conhece né?

Essa publicação é inédita, e realizada pela Editora Aleph, que aliás, publicou todos os outros livros que a gente falou acima, com traduções espetaculares (com destaque para as de Ludimila Hashimoto, que conseguiu manter a genialidade linguística original) e acabamentos psicodélicos (bem no estilo do autor).

Agora é só escolher qual o enredo você mais gostou e embarcar. Boa viagem!

Nota do editor:

Philip K. Dick é gênio!!!