"A Pequena Vendedora de Fósforos" e outros ensinamentos de Hans Christian Andersen | 31 Dias de Natal | Iradex % Iradex

"A Pequena Vendedora de Fósforos" e outros ensinamentos de Hans Christian Andersen | 31 Dias de Natal

Dia 9:  A Pequena Vendedora de Fósforos (The Little Match Girl , 2017)

Texto e narração: Mackenzie Melo (Twitter)

Edição: 20 a 20

DistribuiçãoR.I.P.A. / Iradex

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Transcrição:

Qual valor têm as coisas que temos? Costuma-se dizer que só aprendemos quando as perdemos. Felizes daqueles que podem, ainda enquanto delas usufruem, dar a real importância àquilo, ou àqueles que fazem parte de suas vidas.

Quando me pego pensando nisso, percebo que já sei o que escrever sobre A Pequena Vendedora de Fósforos, um conto do extraordinário Hans Christian Andersen, o contista Dinamarquês. Nascido no reinado Dinamarquês/Norueguês em 1805 e tendo morrido aos 70 anos de idade, H.C. Andersen, como é também conhecido, tem uma presença marcante na vida de todos nós devido à influência de inúmeras de suas histórias que já foram escritas, reescritas, adaptadas para áudio, vídeo, jogos, filmes, peças...

Quem nunca ouviu falar, por exemplo, de A Pequena Sereia, O Soldadinho de Chumbo, O Patinho Feio, A Roupa Nova do Imperador. E, mesmo que não tenhamos ouvido falar, certamente alguma obra que consumimos se utiliza de conceitos que foram trazidos por ele para esse mundo, como, por exemplo, no seu conto As Flores da Pequena Ida, quando, já no comecinho da história descobrimos que as flores dela estão caidinhas e se dobrando. Ida então descobre que suas flores estão assim porque à noite, enquanto ela dorme, elas vão dançar em uma grande festa. Alguém aí lembrou de Toy Story? Talvez, quem sabe, de Uma Noite no Museu?

Voltando ao ponto, melhor, ao conto de hoje, A Pequena Vendedora de Fósforos não é uma de suas histórias mais conhecidas. Pelo para mim ela ficou desconhecida por muito tempo. Se eu ouvi quando criança, não foi algo que realmente tenha me marcado. Hoje, lendo e relendo, vendo e revendo inúmeras vezes desde quando a (re?) descobri muitos anos atrás, creio imaginar o porquê de ela não ser tão divulgada e difundida. Ela não apresenta, de um certo modo, uma história com aqueles famosos finais felizes que todos parecemos apreciar e amar em contos de fadas. Entretanto, e talvez por isso mesmo, seja tão ou mais interessante de se parar e pensar a respeito. Não diria nem no conto ou no final em si, mas talvez em diversos outros elementos contidos na própria história.

Só vou mencionar alguns pois não quero, de verdade me alongar, já que não pretendo que esse episódio seja três vezes maior que o tempo de ler, escutar ou assistir essa história (ou até mesmo, quem sabe, de fazer essas três coisas juntas).

A história se passa na Dinamarca que hoje é referência de sociedade, de cuidado com os outros, educação de primeiro mundo. Mas na história uma personagem é abandonada à míngua.
Na história vemos o problema familiar que “impede” que a personagem retorne ao seu lar com medo de violência doméstica. Os números desse tipo de violência por lá já melhoraram, mas ainda têm muito que melhorar.

Podemos e devemos ter esperança em algo relacionado à fé e às nossas crenças, sejam elas religiosas, espirituais, filosóficas ou como quer que as queiramos chamar, como a personagem mostra na história. Entretanto, precisamos, também como sociedade, desenvolver nossa esperança em algo físico, algo material, em que pessoas possam também acreditar para ter para onde ir, caso necessitem e não tenham um lugar onde ficar.

Já estou falando demais. Só mais uma coisa e prometo finalizar.

A história é realmente triste por um lado, mas linda por outro. Por ser um conto de fadas, sabemos – Será que você realmente acredita nisso? Uma voz me pergunta. – que essa história não aconteceu e isso nos faz ficar um pouco mais aliviados para – nem que seja por um segundo – agradecer por não termos que ter passado por algo assim em nossas vidas. Creio que temos todos um lugar onde morar e para onde voltar. Temos todos a força para trabalhar e voltar pra casa com algo nas mãos. Não passar um frio tão insuportável que os pés fiquem roxos e que não possamos fazer nada ou um calor tão violento que peguemos insolação.

Apesar disso, na verdade, o que essa história me faz pensar é no papel que eu, como sociedade, tenho tido na vida daqueles que podem estar passando por algo semelhante ao que essa menina dinamarquesa passou.

Ou, quem sabe, de poder já ter aprendido a dar valor ao que tenho, a quem ainda tenho e repetir sempre, independentemente de onde tenha nascido ou esteja vivendo:
– Obrigado, muito obrigado.

P.s.: como sempre, os links para ler, ouvir e assistir estão na postagem no site.
P.s. 2: sugiro, se você sabe, ler o conto em português e em inglês pois existem algumas mudanças na adaptação – pelo menos na versão de Pedro Bandeira que eu li – que apesar de não necessariamente atrapalhar a história, modificam algumas das possíveis discussões que as pessoas possam ter sobre o conto e também pode gerar uma análise interessante acerca da escolha pessoal daquele que adapta uma obra de um idioma para outro. E, só para ser mais claro, não estou falando que a adaptação de Pedro Bandeira é melhor ou pior, já que a versão em inglês que li é também uma tradução do texto original, escrito em dinamarquês (que eu não sei ler).