O Cravo Bem Temperado: Tchaikovsky e a Pathétique | Iradex

O Cravo Bem Temperado: Tchaikovsky e a Pathétique

Você acredita em destino?

Obras repletas de emoção são composições extremamente queridas, porque deixam marcas em quem as ouve, afetam o nosso humor e nosso espírito. Então neste texto eu vou escrever sobre uma música extremamente melódica e emocional para mim.

Pyotr Ilyich Tchaikovsky é, sem dúvida, meu compositor favorito pela força e pela emoção que suas músicas carregam. Como já contei, meu primeiro grande contato a música erudita foi com uma obra desse verdadeiro gênio. Nascido na cidade russa de Kamsko-Wotkinski Sawod (atualmente chamada de Tchaikovsky), em 7 de maio de 1840, o compositor, muito famoso por seus balés, teve uma vida conturbada, o que pode explicar suas obras extremamente emocionais e carregadas de drama. A morte prematura de sua mãe, somada a sua homossexualidade mantida por toda a vida em sigilo, Tchaikovsky teve muitas crises e depressões por toda a vida, foi educado para ser funcionário público, já que na época a carreira musical não era muito rentável. Mesmo assim, em 1865, se formou no Conservatório de São Petersburgo, à época capital imperial da Rússia. Ele faleceu prematuramente aos 53 anos, vítima da cólera, doença muito comum no século XIX..

Tchaikovsky criou obras harmoniosamente ricas e melodicamente vivas, que tomaram o mundo ocidental e caiu no gosto do grande público da época. É sobre uma dessas músicas, na verdade sua última obra publicada em vida, de que quero falar, a Sinfonia n.º 6, titulada pelo próprio como “Sinfonia Passional”. O título russo da sinfonia, Патетическая (Pateticheskaya), significa "apaixonado" ou "emocional", não "suscitando piedade", mas é uma palavra que reflete um toque de sofrimento concomitante. Hoje a música é conhecida simplesmente como “Pathétique”.

O compositor terminou de escrever a 5ª sinfonia em 1888 e somente em 1891 foi que ele começou a trabalhar em outra obra, a caminho dos Estados Unidos da América. Por seu temperamento forte, ele tinha o hábito de rasgar suas partituras quando não o agradava e assim o fez com muitos rascunhos de suas obras e, constantemente, sentia-se sem aptidão para criar algo como disse a seu sobrinho em carta a Vladimir "Bob" Davydov.

A sinfonia é apenas uma obra escrita por força da vontade absoluta por parte do compositor;caso não contém nada que seja interessante ou simpatizante. Deve ser deixado de lado e esquecido. Essa determinação da minha parte é admirável e irrevogável.

A Sinfonia “Pathétique” foi finalizada em 1893, em Moscou, antes de o compositor, muito apreensivo sobre a qualidade da própria obra, apresentar com grande aceitação pelo público.

A sinfonia é orquestrada por 3 flautas , 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 Trompas, 2 trombetas, 3 trombones, tuba, tímpano(instrumento de percussão, semelhante a tambores), bateria, címbalos( pratos metálicos, o choque entre eles produz o som), tam-tam e cordas. Composição dividida em 4 movimentos, uma sinfonia clássica:

I - Adagio – Allegro non troppo
II - Allegro con grazia
III - Allegro molto vivace
IV - Finale — Adagio lamentoso

O primeiro movimento é claramente um turbilhão de emoções, escrito em forma-sonata, onde variações do mesmo tema mudam de velocidade e “humor” e ricas melodias entoam uma musica muito emocional oscilando entre alegria e tristeza. O movimento abre com os oboés mostrando o tema inicial, onde posteriormente os violinos entoam o mesmo tema, o desenvolvimento do tema abre com uma explosão da orquestra e, por fim, temos a reinterpretação desse tema de forma sublime, terminando em um silencio magistral.

O segundo movimento é inspirado em uma valsa, onde temas cíclicos podem ser percebidos. Esse movimento contrasta com a melancolia do primeiro movimento e também promove um ar de doçura na obra, dando a ela um tom mais ameno.

O terceiro movimento começa com cordas em um motivo rápido e excitante, como se fosse uma marcha, mas sem nada apoteótico. Nesse movimento, como a obra nitidamente fala sobre destino e vida, podemos perceber até uma metáfora sobre fragilidade e adversidades da vida. Curiosamente, esse movimento termina de forma a entender que é o fim da composição toda, ou seja, um falso final.

O quarto e último movimento apresenta novamente aquele tom melancólico e sombrio que temos no começo do primeiro movimento, uma alusão às conclusões do destino, de onde não se pode fugir. Assim como o primeiro movimento, o clímax reside no meio da composição, que chamamos de desenvolvimento. Temos um tema central que é repetido com notas mais baixas sobre violoncelos, baixos e fagote e, novamente, silenciado como uma tragédia.

Por ser a última obra de Tchaikovsky fica clara a sua maturidade musical, exímia forma de dar nuances às obras e, principalmente, o peso de sua vida na música. Podemos ouvir essa composição e refletir sobre nossas próprias vidas e o quanto você e eu acreditamos em destino e o que possa pesar sobre nós.

Ouça, sinta e mergulhe nessa viagem sentimental de força e tristeza. Tente não conter as lágrimas, porque essa difícil tarefa esbarra sempre nas músicas que trilham um caminho rumo à alma.

Curiosidades sobre a Obra: A sexta sinfonia de Tchaikovsky podem ser ouvida em vários filmes, incluindo Now, Voyager(1942), Anna Karenina(1997), The Ruling Class(1972), Minority Report(2002), Sweet Bird of Youth(1962)  e The Aviator(2004). Além disso, é apresentada no videogame de ficção científica Destiny(2014), durante a missão “The Last Warmind”, na qual o jogador deve defender Rasputin, um antigo sistema de defesa planetária.

A Sexta Sinfonia de Tchaikovsky também foi exibida durante a cerimônia de encerramento das Olimpíadas de Inverno de 2010, realizadas em Vancouver (Canadá), sendo dançada pela companhia do Balé Nacional da Rússia.

Playlist

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O Cravo Bem Temperado é uma coluna escrita por Vinícius Hilário, para nos aproximar da música erudita com um olhar atual e descomplicado.
Experimente, aprofunde-se, e deixe a boa música guiar suas emoções.