A Silent Voice (Koe No Katachi) | Resenha | Iradex

A Silent Voice (Koe No Katachi) | Resenha

Bullying é um forte tema de debate nos últimos tempos e várias produções cinematográficas já o abordaram. Desde filmes mais antigos, como “Carrie a Estranha”, a produções mais recentes como “Extraordinário”. Outro tema recorrente em obras audiovisuais são as dificuldades enfrentadas por pessoas que tem algum tipo de deficiência, um bom exemplo disso é o filme “The Hammer”. A Silent Voice (Koe No Katachi), por sua vez, junta essas duas temáticas em uma história só e aborda os temas de maneira profunda.

Ishida é um jovem malicioso e traquina que vê a ordem já estabelecida de sua sala de aula mudar com a chegada de Shouko Nishimiya, uma estudante novata que se diferencia dos demais devido sua deficiência auditiva. Logo, Ishida passa a praticar bullying com menina. Atitude essa que trará consequências para ambos nos anos que se seguem.

A primeira parte do filme, por ser centrada no bullying, não é só difícil de se acompanhar, como é revoltante. Rapidamente a antipatia pelo protagonista, e outros alunos devido a sua passividade, é instaurada. Mas o ponto de vista referencial da narrativa é dele. Essa decisão acaba por nos dar uma visão mais profunda das ações de Ishida e elimina qualquer maniqueísmo que poderia surgir. Óbvio que não há uma condescendência para com suas ações, porém, conseguimos entender que elas são nascidas não de uma maldade interna e sim da falta de empatia e de conhecimento sobre a situação do outro. Isso gera um personagem mais complexo e que com o passar do tempo vai se tornando cada vez mais multifacetado.

O mesmo pode se dizer de Nishimiya. De início, ela aparenta se resumir em uma personagem estritamente passiva, o que pode incomodar algumas pessoas. Todavia, com o desenrolar da trama é possível entender mais seu comportamento e os motivos que acarretaram na sua falta de ação. Os obstáculos criados por sua deficiência também são abordados de maneira crível. A dificuldade na socialização e no aprendizado trazem momentos comoventes. Felizmente, ela não é resumida apenas a isso e existem mais camadas a serem exploradas.

Ajudam a contar a história a bela e fluida animação (tanto dos cenários quanto dos personagens) que acompanha a passagem de tempo e elabora composições visuais estonteantes, e também a trilha sonora que impulsiona as cenas de maior comoção.

Há um sério problema de excesso de personagens e de subtramas. Além de ser praticamente impossível dar um desenvolvimento decente para todos, torna a trama mais inchada que o necessário, o que implica diretamente na duração do filme. Isso pode ser fruto da tentativa de colocar o maior número possível de elementos do mangá, e de fato há uma sensação de que o material original é ainda mais rico. Porém, isso não isenta a falha, afinal, mesmo que o personagem e/ou a subtrama seja interessante na obra originaria, não necessariamente ela se encaixa em um filme.

A Silent Voice, mesmo que inflado por elementos desnecessários, é uma bela reflexão sobre a falta de empatia e as consequências que ela traz e também sobre o quão difícil é o ato de conviver com o arrependimento. Vale muito a pena assistir e se emocionar junto com os personagens.