Malassombro | Iradex

Malassombro

Vô te contá um causo, acredite ocê ou não. Mas que foi verdade, foi, visse?

Malassombro é um conto escrito por Felipe Malafaia e ilustrado por JP Martins, distribuído em primeira mão aqui no Contos Iradex.


Malassombro

Vinha cavalgando cansado. Sem nenhuma macambira para tomar água, num sentia sede; só quiria chegar nele para poder saber o que fazer. Quando entrô na cidade, si aprumou no cavalo. Num tinha mai ninguem na rua, pro mode das hora que era. O povo tem medo das hora da visage e issu ajudou ele, pruque na frente dum casabre estava o cabra sentado.

Foi mais fácil incontra do que ele pensava.

Diminui a marcha, parou do lado do sujeito, e perguntou:

- O Sinhô que é o dotô?

O cabra nem se mexeu, parecia até que tava morto, mas tava esperando somente o barui do relógio que tava vindo lá de dentro da casa para. Quando parô, o cabra dixelhe:

- Sim.

- Pois eu preciso de sua ajuda.

- Eu num sei posso ajudar você, pelo estado das suas roupas e do cano que tu carrega ai amarrado nas calça, eu acho que nem quero também.

- Zé Modesto que me mandou para cá.

Um cachorro soltou uns uivo que deve ter assustado os minino tudo em casa.

- E que é que você é de Zé? Amigo?

- Sou sim seu dotô, conheci ele lá das banda de arcoverde quando eu andava por ali.

- E o que Zé disse que eu podia fazer por você, amigo do zé?

- Ele disse que o sinhô sabia onde tá o Bando do Rei.

- E foi?

- Foi. E disse que o sinhô podia dizer para mim, pru mode de que eu num sou macaco não, eu quero é entrar no Bando do Rei agora que eu to só...

- Ah... e por que o amigo está só? Brigou com capitão foi?

- Antes fosse... foi arapuca dos macaco.

*** Flashback ***

O bando dorme tranquilo, Badoque tá de guarda. Todo mundo tinha comido bem porque o coroné mandou comida pela mata, nem parecia que tava tudo fugido há uns 3 dias cus macaco fungando nos cangote.
Um barui de bixo fez Badoque se atentá e levantar pra arrudeá o acampamento. Ele oia dentro da mata e esfrega ozói para vê se acredita no que tá vendo.

- Uma muié?

Ali mermo parada oiando para ele, num vestido branco, soltin, de renda.

Ela, quando vê que foi vista, corre pro outro lado.

Badoque, di prontidão, vai atrai dela cum cuidado pra mode de num acordar os homi. Num demora muito para Badoque butá a muié no chão. Apoi na hora que Badoque abaixa as calça para aprumar a muié, a muié tira uma peixeira debaixo do vestido e passa na gaiganta de Badoque. Ele fica estendido no chão ,só vendo ela arrumano o vestido e chamando os macaco. A muléstia da muié era macaca também. E Badoque lá no chão, vendo os macaco mata os homi tudinho na surdina.

Bando de miseravi.

Uns doi dia depois, Badoque se acorda na casa de Zé modesto. Depoi de contar a história toda, Zé manda Badoque procurar pelo doutô lá pelas banda de cacimbinha.

*** Fim de flashback ***

- É badoque, caisse na do rabo de saia.

- Num diga não dotô, mas, o sinhô pode majudar?

- Posso sim. Mas eu preciso que você me faça uma coisa antes.

- E o que é dotô?

- Eu preciso que ocê morra de veiz, homi.

- Como é dotô?

O doutô se levanta devagar pega uma bíblia em cima da mesa e volta pro lado de fora.

- Eu vou lhe dizer onde está o bando com o maior prazer, mas tu vai me prometê que só vai atrás dele se for para assombrá.

- Oxente, o sinhô tá ficando doido? Num me venha com essas história não, homi de Deus.

O Doutô prontamente abre a bíblia e começa a rezar baixinho.

- Homi eu to já me enfezando cum você.

O Doutô permanece lendo, até fechar a bíblia e pergunta:

- E então? temos um trato? Eu lhe digo onde tá o Bando do Rei e você vai ajudar o Rei im pessoa a tomar de volta o que é dele, assombrando aqueles bando de infeliz que passaram a perna nele.

- Mas homi, eu to vivo...

O douto encara badoque.

- Onde foi que arranjou o cavalo?

- É o que?

- Você já olhou o cavalo? Apois olhe pro seu cavalo agora.

Como se fosse feitiço, o cavalo começa a ficar podre. Badoque desse dele na hora e começa a gritar e correr fugindo das ruas que começam a se transformar em coisas de outro mundo. Corre pra dentro da igreja e vai até o altar, se ajoelhando de frente para a estátua de Nossa Senhora.

- Eu num acho que ela vai te ajudar agora não, tuas conta tão muito errada, Badoque...

- E o que eu posso fazer para tê a ajuda da minha mãe?

- Se eu soubesse, eu lidiria... O que eu sei é que você pode ficar andando por ai, ou pode me ajudar e quem sabe eu posso diminuir sua dor...

- E se eu lhe assombrar?

- Você pode tentar

A sacristia em silêncio, o padre desce as escadas e vê o douto conversando sozinho. Sem perguntar nada, ele volta pro quarto.

- Aceita meu contrato? Menos dor na sua pós-vida e você me ajuda um pouco com umas pendências. Parece justo não?

Badoque olha para a santa que parece mais fria e sem emoções do que nunca...

- Eu... aceito.


Esse conto foi escrito por Felipe Malafaia e ilustrado por JP Martins para o Contos Iradex. Para reprodução ou qualquer assunto de copyright o autor e o blog deverão ser consultados.


Sobre o autor: Felipe é o pai da Helena, criador multimídia, game designer e dono do mundo. Apenas uma dessas afirmações é verdadeira.
Sobre o projeto: Contos Iradex é uma iniciativa daqui do site de colocar textos, contos, minicontos ou até livros mais curtos para a apreciação de vocês, leitores. Emendaremos algumas sequências com materiais da própria equipe e, em seguida, precisaremos de vocês para mais publicações. Se você tiver uma ideia de projeto, envie um e-mail para contos@iradex.net.